Não, não estou para jogo.
É isso o que algumas pessoas, das quais me incluo, estão dizendo com todas as forças dos seus pulmões.
Não dá para viver fazendo joguinhos de interesse e desinteresse quando, na realidade, estamos interessados ou apenas gostamos de conversar.
Aliás, conversar está proibido no jogo da sedução, tem todo um time para enviar mensagem, esperar a resposta, aguardar para a tréplica da mesma.
Se você, assim como eu, gosta de um bom papo, mesmo sem qualquer segunda intenção, simplesmente pare.
Já deve ter recebido a alcunha de emocionada ( o).
Mostrar interesse na sociedade do EU, do pretenso amor e valor próprio, corre o risco de virar chacota para o objeto de desejo.
Ou para seus amigos e para uma rede social que insiste nessa exaltação das pessoas com dificuldade em manter o mínimo de diálogo e contato humano.
Seja ele para uma amizade ou/e um relacionamento amoroso.
Com meus quarenta e poucos anos estou ficando com preguiça de me relacionar.
São muitas regras nesse jogo, antes de sair preciso demonstrar interesse, mas não muito porque posso afastar a criatura.
Durante o date, termo em inglês para o que chamamos de encontro, sendo mulher, preciso me proteger para não morrer.
E hoje, em pleno 2024, ainda há regra, para mulheres, sobre sexo no primeiro encontro ou não.
Há que se mostrar interesse, mas não muito para que a pessoa não saia correndo pressupondo um desespero em se relacionar.
Pós date, não pode ser a primeira (o) a enviar mensagem, ao receber, demore um pouco a responder, se ele ou ela sumir, famoso ghosting, finja que não mantiveram contato, trocando informações sobre as suas vidas.
Siga em frente, se desconecte, seja moderna.
E a regra principal: não se apegue.
Não se apegue, não responda, finja desinteresse.
Não consigo jogar esse jogo. Adoro bater papo, mesmo se não possuo qualquer resquício de interesse.
Faço amizade com ex dates, ex ficantes, alguns ex namorados.
Se sair com você não farei um joguinho que ao invés de seduzir, desinteressa.
Quem quiser que corra, aqui tem gente emocionada, sim.
Gente que adora um bom papo antes, durante e depois.
Que pensa que as relações estão para além do contato físico e sexual.
Não há rede social, discurso travestido de modernidade, que me faça crer que pessoas desinteressadas são interessantes.
De mínimo já basta o salário, pensamos que emocionados são as pessoas mais interessantes e interessadas.
Quer joguinho? Sugerimos Uno, Dama.
Por aqui abandonamos o joystick e para o bem ou para o mal, ainda preferimos ser os emocionados.