
As dores de cada um são
ilhas desertas, onde caminhos se abrem dentro do vazio desse lugar,
habitado somente por nós mesmos. Nós e nossa história, tecida com esses seres chamados ancestrais.
Lembranças embaladas pelos ventos que sopram de todos os lados
bailam em frases, risos e também em prosas que nunca aconteceram.
Conhecemos bem essa ilha.
Cada qual com a sua.
Conhece bem seu lugar, é dono dela e de sua dor — imensa e cruel.
Nessa ilha, a gente tenta enxergar a mãe, o pai, o avô, a avó, os miúdos, as crianças e adolescentes — suas vivências, suas experiências.
É vago tentar criar memórias de alguém que não se conheceu no tempo em que viveu.
A gente lembra logo é das comidas, dos conselhos que hoje fazem muito mais sentido,
dos puxões de orelha que fazem a saudade doer mais forte.
Nessas lembranças habitam colo, consolo e dengo.
Mas não, não habitam esses seres que nos geraram.
Esses que um dia deram seu primeiro beijo, sentiram medo, tristeza, dor de cotovelo.
Busco, na ilha da dor, essa pessoa também —
talvez para que ela me mostre um pouco mais de humano,
e assim, eu consiga, enfim, vê-los livres para seguir:
cada um com seu barco, seu mar, e também a sua ilha.