Gênero musical brasileiro que ganhou o mundo no início da década de 60, a bossa nova completa 60 anos em 2018. A primeira aparição do estilo foi no disco Canção do Amor Demais, gravado em abril e lançado em maio de 1958. Na obra, a cantora Elizeth Cardoso interpreta composições da dupla Tom Jobim e Vinícius de Moraes.
Duas faixas específicas do disco são emblemáticas para a história da bossa nova: Outra Vez, composição de Jobim que já havia sido gravada em 1954, e Chega de Saudade, parceria do maestro com o poeta Vinícius de Moraes, escrita em 1956, mas que, até então, permanecia inédita. “É clássico e definitivo momento de parto [da bossa nova]”, considera o crítico e historiador Ricardo Cravo Albin.
O acompanhamento ao violão feito pelo baiano João Gilberto nas canções trazia, pela primeira vez, a batida do violão que se tornaria característica do estilo. Gilberto inova na forma de cadenciar o ritmo, acentuando os tempos fracos, de forma a realizar uma síntese da batida do samba ao violão.
Em julho de 1958, meses depois de Canção do Amor Demais chegar às lojas, João Gilberto concluiu a gravação de seu próprio disco 78 rotações, contendo de um lado a canção Chega de Saudade, e de outro, Bim Bom, composição própria. Nesse trabalho autoral, em que definitivamente foi consolidado o que seria chamado de bossa nova, aparece outra faceta de João Gilberto: a forma de cantar o samba.
Para Walter Garcia, organizador do livro João Gilberto (Cosac Naify, 2011), dizer que o músico de Juazeiro canta “baixinho”, ou que seu canto se aproxima do modo de falar, é contemplar apenas uma parte desse processo.
“Existe também uma percussividade na forma de cantar de João Gilberto. Alguns pesquisadores apontam que seu canto se aproxima da sonoridade de um instrumento de cordas e da articulação de um saxofone’’, afirma.
Pesquisador da obra de João Gilberto, Garcia sintetizou a complexidade do trabalho do músico baiano como uma “contradição sem conflitos”: “O difícil do João Gilberto é que a obra dele está sempre equilibrando contrastes e antagonismos, embora na aparência seja uma obra que não tem contradição nenhuma. Ela é toda atravessada de contradições, mas elas são apresentadas como se não houvesse o conflito”, disse, em entrevista à EBC.
Ausência dos palcos
A bossa nova chega à terceira idade com seu principal ícone fora de atividade há dez anos: a última vez que João Gilberto pisou em um palco foi em 2008, por ocasião das comemorações dos 50 anos do gênero musical. Em São Paulo, os shows ocorreram no Auditório do Ibirapuera e o apresentador foi o crítico musical e amigo pessoal de João, Zuza Homem de Mello.
Foi a última vez que ele esteve na presença do músico, e lamenta sua ausência dos palcos. “É uma grande pena a gente não ter mais o João Gilberto podendo cantar e tocar em público. Certamente ele deve estar cantando e tocando no apartamento onde vive. Mas em público é diferente, ele tem que se preparar para isso. A razão disso [ausência dos palcos] é que ele não está preparado para se apresentar em público. Há que se respeitar João Gilberto”, diz Mello.
Houve uma expectativa de que João voltasse aos palcos em novembro de 2011, em uma turnê nacional com o show João Gilberto 80 anos – Uma Vida Bossa Nova. Mas a primeira apresentação que seria realizada na capital paulista foi cancelada por motivos de saúde do músico e a turnê acabou não acontecendo.
João Gilberto foi visto cantando e tocando violão pela última vez em 2015: ele aparece em vídeos postados na rede social Facebook por Claudia Faissol, mãe de Luisa, filha caçula do cantor. João estava de pijama e tocava e cantava Garota de Ipanema ao lado da filha.
Devido a problemas financeiros e de saúde do cantor, a filha dele Bebel Gilberto conseguiu a interdição do músico no último dia 15 de novembro. O processo corre em segredo de justiça na 5ª Vara de Órfãos e Sucessões do Rio de Janeiro.