A História do bacalhau (entendendo-se aqui como bacalhau o gadus morhua) remonta a documentos do século 9, que comprovam a cobrança de impostos sobre o beneficiamento do peixe em fábricas da Islândia e da Noruega.
Os vikings, habitantes dos fiordes da Escandinávia, guerreiros e navegadores corajosos e indomáveis, são considerados os pioneiros na descoberta e no consumo do bacalhau, pois, justamente, viviam no topo do mundo e navegavam pelos mares do Norte, habitat natural da espécie.
Essa abundância era de tal ordem, que algumas sagas vikings cantaram a grande quantidade de bacalhau que, diariamente, na maré cheia, enchia os fiordes – “em alguns locais, os cardumes eram tão grandes, que a água parecia ferver”, diz uma delas.
Como não tinham sal ou não conheciam o processo de salga, os peixes apenas eram eviscerados e secos ao ar livre, pendurados em armações de madeira por longo período para desidratarem cerca de 3/4 de seu peso. A técnica, embora conservasse o peixe, deixava-o tão duro quanto um pedaço de madeira e fazia com que perdesse boa parte de seu sabor.
Mesmo assim, foi cortando esse peixe duro e seco em pedaços e mascando-o como se fosse biscoito, que esses desbravadores escandinavos puderam viajar da Noruega para as costas distantes e estéreis da Islândia, Groenlândia e Canadá, exatamente as áreas onde o bacalhau do Atlântico é encontrado.
Foi o peixe seco, também, a moeda de troca usada pelos vikings para trazer dos portos europeus as mercadorias que precisassem, como cavalo, gado, cereal, sal, madeira e tecidos.
E, foi assim, através do comércio com os vikings, que o bacalhau se tornou conhecido dos bascos, povo que habitava (e ainda habita) as duas vertentes dos Pirineus Ocidentais, do lado da Espanha e da França, na região costeira do Golfo de Vizcaya.
Assim como os bascos, os portugueses também conheceram o bacalhau através do contato com os vikings que, pelo menos desde o século 10, iam buscar sal em terras lusitanas, onde estabeleceram colônias ou feitorias, como indicam as construções ovais, ao estilo “viking”, em Pedrinhas, perto da Freguesia de Fão, um dos mais importantes centros salineiros de Portugal na Idade Média.
Existem registros do século 11 que dão conta do estabelecimento de relações amigáveis entre os normandos (povo medieval estabelecido no Norte da França, cuja aristocracia descendia em grande parte de vikings da Escandinávia) e as populações do litoral de Portugal.
Alguns estudiosos acreditam que. entretanto, pelo menos nessa época, não tenha sido o bacalhau o elo que permitiu que essas relações amigáveis se estabelecessem, e sim, o interesse dos portugueses nos conhecimentos normandos sobre a navegação atlântica. Pensando bem, faz sentido, já que Portugal, alguns séculos depois, tornar-se-ia a maior potência marítima do Ocidente.
Das inúmeras receitas de bacalhau, uma das que mais aprecio é o Bacalhau nas Natas.
Após dessalgar o bacalhau, sempre na geladeira, coza-o em água quente, sem deixar ferver e reserve. Na água do cozimento do bacalhau cozinhe a mesma quantidade de batatas (ex. 1 K bacalhau para 1K de batatas).
Em um refratário grande despedace o bacalhau em lascas rudimentares, corte as batatas do mesmo tamanho, acrescente pimenta do reino, azeitonas pretas, uns 10 dentes alho fatiado, algumas folhas de louro. Adicione duas caixinhas de creme de leite (é mais fino que o de lata) em seguida acrescente aproximadamente 200 ml de azeite de boa qualidade misturando tudo muito bem. O creme de leite e o azeite devem formar um molho.
Cubra com papel alumínio e coloque no forno a 180º por aproximadamente 30 minutos, vigie de forma que não venha a secar. Um bom vinho verde bem gelado, um bom papo, não precisa de mais nada.