Tomei conhecimento do nome Osório ainda na tenra idade. “Afina”, Josephina Affonso de Oliveira, minha avó materna, me contava muitas histórias de seus familiares paternos, devido ao falecimento de sua mãe, durante o parto, Josephina Josina Gomes de Oliveira, quando do seu nascimento, e de não ter conhecido as relações maternas.
Por esta linhagem paterna, ela descende do padre André Afonso de Oliveira, pároco da Freguesia da Barra do Rio Grande, Bahia, entre 1823 e 1824, bisavô; o Tenente-Coronel Joaquim Afonso de Oliveira, avô; e o Coronel João Afonso de Oliveira, seu pai, ambos da Guarda Nacional.
Não posso assegurar, por falta de documentação, ainda em garimpagem e pelas dúvidas. Minha avó falava sobre sua tia ou prima “Catú”, mãe de Osório, que geralmente desencadeava essas prosas, em virtude do interesse dele em se enamorar com ela. Sendo ele mais velho e a família dela não ter aceitado ainda devido ao grau de parentesco dos dois, eu sabia, pois assim ela me contou.
Depois de conhecer o livro Porto Calendário, deste ilustre conterrâneo santa-mariense, Osório Alves de Castro. Filho de Catharina Alves de Souza e Pedro de Almeida Castro e em nenhum momento aparecer o sobrenome Afonso de Oliveira, como também seu nascimento ser o mesmo ano da minha avó, o que não coincidia com o que anteriormente tinha ouvido minha avó falar, guardei isso comigo. Só recentemente passei a comentar, esperando a hora certa de buscar vestígios que pudessem clarear as dúvidas.
Os esclarecimentos acima foram e são pontuações importantíssimas que desencadearam dúvidas que passei a ter e que me levaram a investigações. Tive a sorte de ter encontrado em pedaços, guardados entre as páginas do livro de Registro de Pessoas Naturais de Santa Maria da Vitória, o assento de Osório e depois a averbação alterando o nome de Osório Afonso de Oliveira para Osório Alves de Souza.
Somente a título de “enfiar bufa ni cordão”, ou pelo dito popular “quem pricura incronta”, para atrair atenção de alguns e provocar a outros: apesar de serem abordados temas verdadeiros e sérios, coincidentemente, o número tês foi companheiro durante a vida do escritor.
Osório teve três nomes oficiais: Osório Afonso de Oliveira, Osório Alves de Souza e Osório Alves de Castro. Três anos de diferença entre as datas de nascimento do primeiro, 17 de abril de 1898, e o último, 17 de abril de 1901; três projetos de casamento com três Josephas: Josepha Afonso de Oliveira, Josepha Almeida de Castro e Josepha Medina que foi sua esposa.
Escreveu três livros, mas que são uma trilogia, se complementam: Porto Calendário, Maria Fecha a Porta Prau o Boi não Te Pegar e Bahiano Tietê. Tendo como personagem principal no primeiro e segundo livro, Orindo, no terceiro, é apelidado de Bahiano Tietê. Entretanto, a marcha no São Francisco, se inicia com três jovens: Orindo, Lesbãozim e Joviano. Hipoteticamente se Lesbãozim não tivesse morrido, o personagem principal do segundo livro teria sido outro. São sanfranciscanos originários das três raças, mestiços: índio, negro e o branco, segundo o próprio Osório e esquecidos, intencionalmente pelo Estado, por três séculos e que por perseguições políticas e ameaças, deixa definitivamente sua terra natal em 1923.
Para os interessados na numerologia, está aí uma coisa “tutanuda”. O número 3 na simbologia remete a pessoa talentosa e agradável, com tendências a ser orador, escritor, ator, músico. Três é número associado à comunicação, à expressão, o poder da unidade entre a mente, o corpo e o espírito. E mais fica para os que despertarem e mais encontrarão.
O que conhecemos de Osório como Alves de Castro já é muito, principalmente pela metodologia inovadora de registrar a história, numa narrativa onde o histórico e o literário se imbricam com maestria, micro história? E dos outros dois Osórios é o que estaremos, doravante, no encalço, “tem pano pá manga” conversas de alfaiataria, mesmo. E com ascendência na senzala dos Ataídes, onde se produziam mestiços após a Lei Euzébio de Queiroz, na Fazenda São Vicente e no Casarão dos Afonsos, latifundiários, descendentes da nobreza portuguesa.
No lançamento de Porto Calendário está escrito no cartaz: “Festival do Escritor Desconhecido” tendo ao lado uma enorme carranca. Desconhecido como ainda são os outros Osórios, Como escreveu seu neto, Paulo Martinez, quando perguntado sobre o paradeiro da carranca, exposta na ocasião do lançamento de Porto Calendário, e por não saber comentou: “Mistério da carranca…” que pode se estender mais além: São Mistérios dos Osórios.
Para nosso consolo e mais provocações quando de sua carta a Herculano Pires, 1957, Osório finaliza dizendo:
“Os acontecimentos me deram a liberdade e o meu Porto Calendário, um atleta ou um manipâncio, terá voz clara ou rouca, mas contará muitas coisas passadas como os dias que vão e vem, a lua que cresce e míngua, as águas subindo e descendo e dos homens que são jagunços, são coronéis, são remeiros, são tudo, mas são criaturas sensíveis e tem um MISTÉRIO que não sabemos bem o que é.”
Hermes Novais Neto, historiador, ativista social e ambiental no vale do rio Corrente, Bahia.