Ora, gente, não se queixe
se hoje está moribundo
o nosso rio do Peixe
que já foi largo e profundo.
Essas águas serpenteavam
entre margens verdejantes,
de seu bojo saltitavam
vidas várias, flamejantes
Lambaris, bagres, pintados,
piaus, curimbas, pacus,
os reis dos rios, os dourados,
piaparas, piauçus
e o que mais pensar de peixe
se encontrava sempre ali,
que eu fale meu povo, deixe,
pois nele tudo isso eu vi.
Vi capivaras, veados,
ariranhas, jacarés,
todos eles entremeados
à mata e aos aguapés.
Esse rio que vejo agora
não é aquele fluente
que eu já vira outrora
desde a sua nascente,
Pouca água, muita terra
não consegue deslizar
sobre a areia que o emperra
o impede de caminhar.
O meu Deus! Quanta tristeza
ver Vossa obra espoliada
mataram a Natureza
o nosso rio virou nada!
Se “amor com amor se paga”
quero, antes que eu enfeixe
estes versos, jogar praga
em quem matou o rio do Peixe.
Porém, concedo perdão
a quem tentar reavivá-lo.
Concedo de coração,
porque é preciso salvá-lo.