Ainda que o termo centros urbanos permita múltiplas interpretações, nesta reflexão, refere-se ao “coração das cidades”, isto é, às regiões vitais das cidades, onde estão enraizadas sua origem, sua história. É comum, por esta razão, se fazer referência a esses locais como centros históricos.
Embora sejam constituídos por edifícios, praças, mobiliário urbano e outros elementos que relatam a história e revelam a identidade das cidades, a grande maioria desses centros urbanos atravessa processos de ruína que extinguem seu valor. Autores categorizam estes processos, fundamentalmente, em duas vertentes: deterioração e degradação.
O fenômeno de deterioração define-se pela perda de funções relativas à qualidade física das edificações, estampada em ruínas e abandono, enquanto a degradação se refere ao declínio ambiental desses centros, sobretudo, decorrente do descuramento a que estão sujeitos, reverberando-se nos grupos sociais e causando o empobrecimento das relações entre a sociedade e o lugar, depredação, entre outros prejuízos.
O sentido de lugar, a propósito, também foi abordado com profundidade por autores que, há décadas, reconheceram o genius loci (espírito do lugar) como um fator preponderante na relação entre o edifício e seu entorno. Deste modo, entende-se que o genius loci desses centros urbanos está calcado na memória dos cidadãos sobre sua história e identidade. É oportuno considerar que esse espírito do lugar se aplica, igualmente, a outros setores das cidades, como largos ocupados por antigos mercados municipais, monumentos, teatros e cinemas.
Em contraposição, ao longo da história da Arquitetura e Urbanismo, algumas correntes expressaram uma postura irreverente quanto à intervenção nesses locais, pautando-se em princípios de renovação, reconstrução, entre outros “res”, que impunham a ideia do novo em detrimento do antigo. Nesse contexto, algumas cidades europeias, por exemplo, tiveram seus centros urbanos transformados.
Perpassados movimentos antagônicos que ora buscavam preservar, ora renovar a paisagem dos centros urbanos, o que se observa atualmente é a presença da Arquitetura e do Urbanismo que imprimem a contemporaneidade de projetos inovadores, que utilizam materiais e tecnologias construtivas de vanguarda, inseridos em sítioshistóricos antigos.
Heliana C. Vargas e Ana Luísa H. de Castilho, ao comentarem sobre movimentos de preservação urbana ocorridos nos Estados Unidos a partir da década de 1970, citam pertinente interpretação a respeito da dialética entre o preservar e o renovar: “o casamento da Sra. História com o Sr. Lucro”.
É possível que esta união resulte em uma experiência positiva, porém, ainda hoje é considerada um árduo desafio, inclusive nos sítios históricos brasileiros, embora o patrimônio esteja amparado por instrumentos legais.
Profa. Dra. Danila Martins de Alencar Battaus
Pós-doutorado pelo Instituto de Arquitetura e Urbanismo da USP
Doutorado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP
Mestre pela Escola de Engenharia de São Carlos da USP