Férias

Adoro uma frase que, um dia, ouvi o saudoso humorista Bussunda dizer ao ser entrevistado. Dizia ele que, ao encontrar um fã no aeroporto, este lhe disse: “Bussunda! Parabéns! Adoro o seu trabalho”, ao que o humorista respondeu: “Rapaz, você fala que gosta de meu trabalho porque não conhece as minhas férias, que são muito melhores”.

Gosto muito dessa passagem porque ela me faz lembrar que não podemos esquecer que trabalhar é bom, mas descansar também é necessário.

Claro que se temos a oportunidade de trabalhar no que gostamos o dia-a-dia, mesmo que seja extenuante, sempre traz uma sensação gratificante. Neste aspecto, não posso reclamar, pois considero bastante gratificante o trabalho que desempenho.

Porém, no passado tentaram nos convencer de que a vida deveria se reduzir ao trabalho, tanto que foram criadas algumas máximas conhecidas por todos. Entre elas, podemos citar as seguintes frases: “o trabalho engrandece o homem”, “o trabalho dignifica o homem”, “Deus criou o trabalho”, “cabeça vazia é oficina do diabo”, etc.

Esta visão do trabalho como necessidade, nos últimos anos, acabou sendo distorcida pela visão econômica que invadiu todos os aspectos de nossas vidas. Assim, todos são compelidos a trabalhar e, mais que isso, trabalhar em algo que dê muito dinheiro. Por isso que os jogadores de futebol, que ganham verdadeiras fortunas, são concebidos como exemplos a ser seguidos por todos.

Esta visão econômica do trabalho que acaba por considerar negativa toda a forma de ócio, faz com que os jovens, mesmo em tenra idade, sejam obrigados a escolher a sua profissão, fazer um vestibular e ser aprovado na “melhor” carreira para ganhar muito dinheiro.

Isso faz com que dois aspectos importantes de nossas vidas sejam desprezados: primeiro, acaba-se por menosprezar a vocação, pois os jovens não são mais incentivados a buscar a carreira que mais lhe possa trazer satisfação, mas sim aquela que possa garantir mais dinheiro.

Assim, os jovens são compelidos a eleger cursos universitários para os quais não estão vocacionados e acabam se frustrando. Esta frustração, quando acontece durante o curso, faz com que os alunos troquem de curso, buscando a felicidade em outros ramos.

Em alguns casos, porém, os jovens insistem no caminho errado e, ao final, acabam se vendo em profissões que não lhe trazem qualquer prazer. Transformam-se em profissionais frustrados para os quais o dinheiro não é capaz de trazer a felicidade esperada.

Além disso, a visão econômica do trabalho acaba fazendo com que as pessoas menosprezem as férias e os períodos de folga, sentindo-se culpados nos dias em que não estão trabalhando. O ócio é tido como se fosse um “pecado” ou algo “ilegal” quando, na verdade, é uma grande oportunidade para que possamos “recarregar as baterias” e preparar nosso corpo e nossa mente para novos desafios.

No Brasil, as férias no trabalho ocorrem, normalmente, nos meses de janeiro e julho, a fim de coincidirem com as férias escolares. Assim, este ano, as férias “quase” acabaram, uma vez que estamos no final do mês de janeiro e depois do carnaval a vida volta ao normal.

Portanto, aconselho a todos a aproveitarem os últimos dias de férias e, quem sabe, ler o livro “O ócio criativo”, do sociólogo italiano Domenico de Masi, no qual o autor, dentre outras coisas, defende a valorização das necessidades reais das pessoas tais como a introspecção, o convívio, a amizade, o amor e as atividades lúdicas.

Assim, bom final de férias para todos e viva o ócio criativo.

Jefferson Aparecido Dias é Doutor em Direitos Humanos e Desenvolvimento pela Universidade Pablo de Olavide de Sevilha (Espanha), Procurador da República de Marília e Pró-reitor de Pesquisa e Pós-graduação em Marília