O professor mariliense Roberto Cavallari Filho, 38, acaba de concluir nos Estados Unidos um disputado e reconhecido curso de doutorado em filosofia com os principais nomes da área na atualidade.
Além de grandes pensadores dos Estados Unidos e Europa, teve aulas com professores reconhedicos como Prof. Dr. Lambros Comitas, professor de Antropologia da Educação na Columbia University há mais de 50 anos.
Já seria um grande feito, que torna qualquer currículo diferenciado. No caso de Beto Cavallari, como o professor é conhecido por aqui, tem valores agregados: ele fez o curso com bolsa obtida em um longo e exigente processo, teve a possibilidade de escolher entre três grandes instituições e foi o único brasileiro da turma.
Beto concluiu Doutorado em Filosofia com Ênfase em Educação na Universidade Columbia, em Nova York. Há ainda outra boa mensagem: pretende usar no Brasil, em atividades de educação e formação de professores, toda a bagagem obtida com o curso.
Mestre em educação com especialização e graduação em administração, Beto é professor universitário em Marília. Veja o que ele diz sobre sua experiência em entrevista ao Giro Marília pela internet
GIRO MARÍLIA – Por que escolheu doutorado no exterior? Você teria possibilidade de formação semelhante no Brasil?
ROBERTO CAVALLARI FILHO – Há bons cursos de pós-graduação em filosofia e educação no Brasil. A diferença é que aqui na Columbia eu tive a oportunidade de estudar com os professores tanto dos EUA quanto da Europa que geralmente escrevem os livros que comumente estudamos no Brasil, como por exemplo os filósofos americanos Richard Bernstein, Patricia Kitcher e Cornell West (cujo um dos livros faz parte da série “Matrix”), o filósofo francês Jacques Rancière, o filósofo inglês Simon Critchley e muitos outros. NYC definitivamente se tornou a capital mundial da filosofia nos últimos 10 anos e eu sou grato por ter participado disso já que vim pra cidade há sete anos.
GIRO MARÍLIA – Como foi o processo pra chegar até aí e com bolsa? Que obstáculos, que tipo de avaliações você teve de fazer?
BETO CALLARI – Na época, em 2007 quando eu iniciei o processo seletivo, o MEC o denominava de “Bolsa Capes/Fulbright para Doutorado Pleno nos EUA”, ou algo assim. O processo seletivo iniciou-se no início de 2007 e durou até abril de 2008. Foi brutal. Havia pelo menos quatro fases na primeira etapa, que eu me lembro: exames de língua inglesa para proficiência, análise curricular, escrita de um pré-projeto de pesquisa e entrevista em Brasília com professores da área, brasileiros e americanos.
Em junho ou julho de 2007 eu estava terminando o mestrado em Educação pela Unesp/Marília e já tinha uma certa bagagem com o mundo da pesquisa acadêmica.
Como eu também já estava em contato e trabalhando com professores de diversas universidades nos EUA desde o ano 2000, o MEC viu algo em minha experiência, pois eu fui um dos pré-selecionados.
Aí você passa a negociar diretamente com as Universidades americanas. Eu enviei minha proposta de estudo para a Columbia University em NY, para a Southern Illinois University, em Carbondale, e para a Virginia Tech University, em Blaksburg, e fui aceito por todas as três.
GIRO MARÍLIA – você trabalhava como professor em Marília enquanto fez este processo todo?
BETO CAVALLARI – Fazia mestrado com bolsa da Capes. Em 2007 eu também fundei a Poiesis Editora em Marília (www.poiesiseditora.com.br)
GIRO MARÍLIA – Como pretende aproveitar todo este conteúdo no seu retorno ao Brasil?
BETO CAVALLARI – 0 meu objetivo primário é acadêmico, no caso participando do ensino, da pesquisa e da extensão em instituições de ensino. Aqui em NY eu tive a oportunidade de lecionar filosofia em escolas públicas e em charter schools e há um enorme esforço em relacionar o pensamento reflexivo necessário para a formação humana com as questões e exigências de ordem profissional.
Filosofia é algo real e podemos abrir espaço para que ela tenha alguma participação em nossa vida cotidiana. O problema é conseguir abrir os “espaços” e achar os “tempos” para o filosofar hoje em dia.
Daí o caráter político originário da atividade filosófica. Filosofar é algo sério e com consequências as vezes maiores do que o nosso próprio interesse e controle. Daí que ela pode ser evitada e marginalizada em diferentes sociedades.
GIRO MARILIA – Quais as dicas para quem tiver interesse em uma bolsa semelhante? O que deve ter de bagagem e preparação?
BETO CAVALLARI – Vontade de se conectar com pessoas diferentes, de se colocar em posição de vulnerabilidade, em ser o outro, o estrangeiro. Independentemente da sua situação social e econômica no país de origem, esse sentimento é compartilhado por quase todos os alunos de programas de intercâmbio com alguma sensibilidade social e política. Apenas pelo fato de que somos colocados nesta situação já é uma educação. Outra ponto é a vontade de estudar e resolver problemas a partir da perspectiva da investigação rigorosa, que deve ser sempre a base da pesquisa acadêmica.
GIRO MARÍLIA – É uma formação de atíssimo nível. Há mercado e reconhecimento para este potencial no interior?
BETO CAVALLARI – Não saberia te responder ao certo. A resposta deve vir das Instituições de Ensino estabelecidas no interior. Mas acho que se elas quiserem competir e crescer com base em qualidade de ensino, elas terão que investir neste tipo de profissional. Do contrário, elas permanecerão numa competição regionalizada por matrículas. Isso para as privadas. Em relação as Uni públicas, a realidade é um pouco diferente.
GIRO MARÍLIA – Pretende seguir carreira acadêmica em instituição pública brasileira?
BETO CAVALLARI – Sim, carreira acadêmica. Mas tenho um apetite por resolução de problemas de ordem educacional e cultural e o setor não-governamental e até mesmo o governamental me interessam desde que haja um bom projeto por trás com pessoas sérias, responsáveis e que enxerguem as dificuldades da vida cotidiana com vontade de melhorá-las.