Marília

A eleição em três turnos e o lixo na rua

A eleição em três turnos e o lixo na rua

Desce do palanque. Foi assim que o prefeito Vinícius Camarinha respondeu a uma pergunta – que considerou agressiva – feita por um jornalista. Uma resposta que não tratou da pergunta e nem tratou da verdade.

O prefeito que sai, Vinícius Camarinha, o prefeito que entra, Daniel Alonso, e os grupos em torno deles estão todos no palanque. Fazem uma eleição de três turnos. Envolve ganhar agora, ganhar em 2018 (na eleição para deputados) e ganhar em 2020, na eleição – ou reeleição – para prefeito.

E o objetivo de todos é que o lado oposto exploda. O problema é: até que eles consigam, quanto da cidade explode junto?

Torcer contra Daniel e seu mandato será o dia-a-dia de boa parcela de quem sai da gestão. Problema deles. O que não pode acontecer é usar a gestão, os recursos públicos e os 60 dias de mandato para atrapalhar o próximo mandato – e com ele a cidade –.

E os exemplos de que não há visão cidadã dos bens, direitos e negócios públicos são cada vez mais graves.

A privatização da água e esgoto já era uma vergonha pela forma como foi feita. Agora, com disputa por empresas atoladas em suspeitas, com um mandato rejeitado pelo eleitor, manter a privatização é uma vergonha e uma ameaça.

Fazer o processo em um momento em que a licitação de Marília é citada até em um relatório da Polícia Federal sobre escândalos em departamentos de água seria errado mesmo para um prefeito reeleito ou muito popular.

É também inoportuno, pra dizer o mínimo, o plano de carreira. É uma necessidade, os servidores precisam das mudanças. Mas começa assim, o que vale pra um agora não vale pra mais ninguém e tudo muda em 60 dias, mesmo que ninguém saiba como vão as contas da prefeitura?

Alguns iluminados de uma gestão que a população rejeitou nas urnas e uma câmara com 13 vereadores dos quais sete não estão entre os reeleitos vão definir assim, em final de mandato? Aliás, um mandato coberto de péssimas relações com os trabalhadores.

Cheira a amarrar a arrecadação e impedir investimentos, uma forma de boicotar quem chega e de fazer campanha atrasando a cidade.

Novas condutas em torno disso são quase tão ruins quanto a lei. Em defesa do plano, governistas de agora passaram a divulgar mensagens de Daniel com promessas para acabar com os cargos comissionados. Ele prometeu e espera-se que acabe.

A Prefeitura não está nem tirando o lixo da rua e está preocupada em cumprir a promessa de quem nem assumiu?

A atual gestão tem compromissos de verdade a encerrar: pagar atendimento de saúde, concluir ano letivo com merenda e salários pagos, tirar lixo da rua, proteger o orçamento. Não é tempo de inventar, ainda mais se até lá não vai nem cumprir o básico, como tirar lixo ou colocar água nas casas.

“Eu tenho o compromisso” não convence ninguém além dos amigos. O compromisso agora é fazer uma transição organizada, A eleição vai completar um mês nesta quarta e em 30 dias não se teve a grandeza de iniciar um processo decente, transparente e republicano de transição. Cheira a birra. E a cidade perde, de novo.

Mas se sobra discurso de quem sai, falta informação de quem entra.

Afinal, qual o projeto concreto de Daniel para os cargos comissionados e servidores? O que o futuro prefeito tem a dizer aos vereadores que vão votar a medida? Cadê uma manifestação técnica de sua assessoria para mostrar em que pontos o plano de carreira é uma ameaça ou uma armação?

O que Daniel – que diz ser contra a venda do Daem – propõe fazer sobre a privatização antes de o processo acabar e gerar disputa judicial de direitos da empresa vencedora?

Daniel pode contribuir muito se começar a entrar de forma mais firme, decisiva e transparente na vida da cidade. Não vai decidir nada mas pode – e deve – participar e oferecer ideias que possam influenciar qualquer discussão.

Ao cidadão hoje pouco importa agora a eleição de 2018. O lixo está ficando na porta, a água ainda falta, as ruas estão esburacadas, há dívidas com hospitais, falta de estrutura na saúde, muito a avançar na educação, muito a modernizar na cidade e muito a investigar.

Fora disso é palanque, de um lado e do outro. O cidadão merece um descanso – e uma cidade melhor – até o próximo turno.