Estive refletindo sobre a campanha da empresa Dove, que na semana passada causou polêmica nas redes sociais. Em meio a tantos textões e vídeos, um me chamou a atenção, o do canal Spartakus (link: https://www.youtube.com/watch?v=PHm2Ez8jifo ), em que os autores defendem a ideia de que a propaganda da Dove foi descontextualizada e por conta disso gerou todo um desconforto.
Pois bem, a propaganda da Dove era: uma mulher negra ao retirar a camiseta se transformaria em uma mulher, e esta ao retirar a camiseta também se transformaria em uma mulher latina e a mulher latina ao tirar a camiseta se transformaria em uma mulher asiática. E assim termina a chamada da propaganda que dura 13 segundos. O que rodou pelas redes sociais foi apenas a parte que a mulher negra vira a mulher branca.
Segundo Spartakus, o racismo apontado pelas pessoas foi um exagero, tendo em vista que a propaganda não era racista, que ela na verdade quis promover uma diversidade na chamada, porém a mensagem era subjetiva, logo, a propaganda não era racista, e sim a mensagem da chamada soou como racista e ao final conclui que não foi racismo intencional. E é essa frase que me deixou perplexa.
Parei para pensar em vária propagandas racistas que já vi ao longo da minha vida e as respostas que as empresas dão nesses casos, e não é brincadeira, mas as respostas são sempre as mesmas: “não foi intencional”, “a nossa proposta não era essa”, “e sim promover uma diversidade a todos, desculpa”. Ninguém na agência, na marca ou por onde o vídeo passou conseguiu assistiu e dizer: “ei, erramos, a mensagem final é racista”
O racismo em nossa sociedade é estrutural, está entranhado em nosso imaginário, e campanha como essa da Dove só reforça o quão importante é discutir/debater o racismo em todos os espaços. Os erros de outras campanhas não serviram para impedir mais esse caso.
Embora a propaganda não tenha a intenção em ser racista, ela foi. Ela reproduziu mensagem racista e isso envolve muitas nquestões que precisam entrar no dia a dia da publicidade, consumo, relações sociais. Não é nova a discussão sobre a falta de profissionais negros ou de diversidade entre os profissionais para evitar essas campanhas constrangedoras. É preciso envolver no processo de criação o debate sobre racismo assim como todas as formas de opressões sociais (contra mulheres, lgbtts etc).
É como sempre digo: é preciso sair da zona de conforto, e abrir espaços para essas questões. Não adianta querer combater o racismo sem embasamento teórico e sem consultar pessoas que sofrem/são vítimas do racismo, pois o resultado da campanha é a reprodução do que se está tentando combater.
Vale ressaltar que não é a primeira vez que a Dove é acusada de racismo em suas campanhas. Não dá para ser ingênuo diante dos fatos. Por mais que uma parte das pessoas não tenham visto racismo, mas ele estava lá.
Eu não me contento apenas com desculpas de pessoas ou empresas que comentem ou reproduzem racismo, a desculpa é sempre a mesma. Quero ver estas marcas assumindo o que fizeram, revendo sua postura e adotando medidas práticas de combate e repressão ao racismo.