Era para ser uma sexta-feira típica como outra qualquer, saí para caminhar ao lado da minha mulher e no caminho paramos em uma lotérica junto a um supermercado na cidade. Greve dos bancários, aliás a única greve que funciona e é prontamente atendida neste país. A fila era muita grande e já que estava parado ali, minha mulher aproveitou para ver vitrines e comprar algo no mercado. Portanto, sozinho e sem paciência. Não puxei conversa com ninguém e nada me distraía na longa espera para ser atendido.
Ao caminhar na fila uns oito passos depois de uns 35 minutos, eis que escuto uma conversa de dois senhores que estavam ao meu lado na fila preferencial. – Eu já vivi muito, passei por tudo, até os anos de chumbo neste país. E foi ainda mais longe, perguntou para os outros idosos: “ Você sofreu durante a Ditadura Militar? E todos respondiam que não? Continuou – Eu morava em São Paulo, naquela época, o país, crescia, todos tinham emprego, ganhavam bem, não havia corrupção e tanta violência como há hoje.
Foi ainda mais longe. – Hoje o povo fala de Cuba, da China, da Coreia do Norte, só se esqueceu de citar o Vietnã falando dos países com regime Comunistas. Se eles não estão contentes em seus respectivos países que saiam de lá. Vão morar em um país capitalista.
Eu como professor de história não me contive, ia começar a participar da conversa, responder que no Período Militar, aconteceu sim o “milagre econômico”, mas, as custas de muitas vidas daqueles que lutaram pela liberdade e democracia no Brasil. Que houve corrupção sim, muitos militares enriqueceram extorquindo gente inocente, e que em países comunistas, é muito complicado você deixá-lo, a não ser pedindo exílio. Porém, a fila andou mais e chegou a minha vez de ser atendido, não pude participar da conversa.