Marília

A maior obra da história dos últimos dias

A maior obra da história dos últimos dias

O prefeito Vinícius Camarinha disse na inauguração da UPA (Unidade de Pronto Atendimento) da Zona Norte que entregava “a maior obra da saúde na história da cidade”.

É uma grande obra, uma medida de sucesso que une o governo federal – que deu o dinheiro e o projeto – o governo municipal e a iniciativa privada no gerenciamento em forma de OSS (Organização Social de Saúde).

Pois “a maior obra da saúde na história da prefeitura” não completou seis meses e já teve falta de água, problemas na construção e agora salários e pagamentos atrasados, que podem até ameaçar o atendimento.

Quando a maior obra falha poderia ser dito que é a maior decepção da história? Duvidoso, mas é certo que a administração vive, até certo de forma surpreendente – um final melancólico.

A 45 dias do fim, o quarto mandato político – primeiro como executivo e nem de longe se pode afirmar que seja o último –  termina sob símbolo de abandono de questões básicas: limpar as ruas, tapar buracos, pagar salários.

Os últimos grandes atos da gestão oscilaram entre polêmica interrompida pela Justiça com a privatização, um pouco explicado plano de carreira e uma “grande obra” na forma de uma avenida monumental para pouco movimento, ligação pífia e benefícios surpreendentes a uns poucos.

Chega ao fim com a sensação de paralisia muito semelhante à que atingiu mandatos de grandes vergonhas, em que nada se esperava ou acreditava.

Vinícius Camarinha tem cursos na área de gestão, conhecimento em direito, vivência em grandes negócios públicos que passaram por sua análise como deputado estadual, uma vida formada em meio a encontros, festas e eventos políticos e eleitorais.

Não fiz os cursos que o prefeito frequentou, mas me dou o direito de imaginar que em pelo menos um deles ou em qualquer estudo sobre Teoria do Estado, deram a ele possibilidade de imaginar que uma gestão em final tem a obrigação de serenidade e prudência.

A considerar os últimos dias – atrasos de salário em outubro, atrasos de salário em novembro, uma crise do lixo que se arrasta, um estado de abandono de ruas nos bairros que volta a se agravar após um ou outro investimento – a transferência vai dar a Marília um novo gestor e a ele velhos problemas banais.

A posse acontece na manhã de 1º de janeiro, um feriado. No dia 2, com ano novo, prefeito novo e novos sonhos e gestores, tirar o lixo das calçadas, ter os servidores com a segurança do salário e imaginar que o simples funcionamento da cidade não seja um enorme problema seria o básico. Não parece hoje que vá ser assim. Pelo contrário.

Vinícius foi acusado de causar – por omissão – uma epidemia. Depois de ela formada criou comitê e grupos de solução. Enfrentou a mais longa greve porque a gestão falhou na negociação antes que ela começasse.

Executou parte de uma grandiosa obra de esgoto cuja paralisação foi se arrastando em boataria, problemas, atrasos até um fim polêmico com contrato a negociar, dívidas a pagar e obra abandonada.

Esse histórico dá a sensação de que o tempo em que a crise do lixo já se arrasta ou a crise dos salários se repete vão transferir os problemas o mesmo resultado: necessidade de medidas emergências e correria. Insegurança. Insatisfação.

Com a diferença de que neste prazo o prefeito será outro e gestor que deixa a cidade acabe sendo lembrado por uma herança maldita, na mesma vala do pior que o a cidade já viu e produziu.

A maior obra da história no momento seria uma freada em todas as amenidades da gestão e uma concentração da administração para cumprir o básico, para ajustar tudo em 30 dias.

E com isso e poder dizer que entrega a cidade com problemas e dilemas históricos e com crise financeira que certamente reflete a crise nacional, mas com lixeiros nas ruas, merenda nas escolas, educadores e profissionais de saúde pagos nos postos.

Os novos gestores poderiam então mostrar a que vieram e dar respostas a anseios da cidade ou serem julgados pelos resultados que mostrem, sem precisar cuidar do que seria básico.

Grande hoje seria fazer o mínimo.