Marília

A privatização em silêncio, a oposição também

A privatização em silêncio, a oposição também

Diferente da privatização dos serviços de água e esgoto, que rendem quase um ano de polêmica e desgaste para a administração municipal, a coleta e destinação do lixo caminha para um processo de terceirização que vai muito bem, obrigado.

Privatização em si nem é lá um ato tão impopular. Muita gente defende o esvaziamento do poder público e é inegável que o mundo oferece exemplos de sucesso e qualidade de serviços.

O problema é que esta qualidade não é exatamente uma tradição no país – vide a telefonia, rica em queixas – e o jeito de conduzir o processo em Marília passa longe de qualquer modelos democrático, o que, para dizer o mínimo, suspeito.

O quadro do lixo é claro para isso.

Hoje, ter o aterro, mesmo que privatizado, parece uma solução na medida da cidade.

Mas o processo para tornar o problema tão grave envolve anos de descaso e enrolação, anos ignorando leis, anos sem investir, anos acumulando problema. Bem, ele ficou grande o suficiente para a saída de gênio. O lixo vira lucro com ares de grande saída.

Precisava ser assim? A cidade não poderia ter as estruturas funcionando e, ainda que quisesse privatizar, ter poder de impor mais condições, impor atendimento, tornar a medida mais transparente e com participação popular na decisão?

Pior. É uma privatização que une governos, todos tão iguais e separados por detalhes, em propósitos e medidas.

Começou há muito tempo com o abandono do lixão, com a falta de investimentos na destinação, nas propostas de coleta seletiva e reciclagem e qualquer investimento público na área.

Descambou para a terceirização da coleta, depois do transbordo e vem por aí a solução mágica: um aterro privado. Parece ruim mesmo se você pensar em tudo isso sem levantar qualquer suspeita de fraude em valores, benesses ou interesses escusos

O processo de terceirização não tem um dono, não tem um “pai”. Une diferentes gestões – Camarinhas (pai e filho), Bulgareli, Ticiano – assim como diferentes legislaturas na Câmara e a mesma plateia sem opções na coletividade.

O aterro privado vem aí, como em algum momento vão dar um jeito de a privatização do Daem vir também. 

A situação do departamento – pagamentos atrasados, falta de investimentos, discussão nenhuma para terceirização – só alimentam as teorias da conspiração e as acusações de “quanto pior melhor”. O Daem, como a destinação do lixo, vai sendo levado para seu limite até um ponto em que privatizar seja a saída de gênio.

E se já é ruim ver que este debate sobre os serviços não é feito pelas administrações, é ainda pior ver que oposição poderia assumi esta função, chamar a população a formar opinião sobre este e outros problemas públicos. Mas não conte com isso.

A oposição anda mais ocupada em resolver suas crises e consome sua energia em intrigas e disputas de nomes de eventuais candidatos a salvador da pátria. Não tem qualquer agenda de contato com o eleitor, de ação nas ruas, de debates ou disseminação de informação.

Não há qualquer garantia de que a oposição seja efetivamente melhor do a atual gestão ou as anteriores. Por pelo menos duas vezes a oposição à família Camarinha venceu as eleições e não conseguiu mudar o jeito de fazer política ou os rumos de investimentos públicos.

Mas aqui é preciso uma ressalva. O fracasso da oposição não representa que o atual modelo seja bom. E a ausência de oposição é péssima. Empobrece a analise da cidade e dos serviços, tira dos cidadãos a chance de discutir e enxergar alternativas.

Afinal, é esse debate que pode, inclusive, melhorar a oposição. Mas não parece ser este o caminho.

No ano eleitoral, a administração está nas ruas. A oposição em crises de redes sociais.

Um caminho que leva todos eles, assim como o lixo, para uma profunda cratera.