Marília

A violência de hoje: quem são os responsáveis?

A violência de hoje: quem são os responsáveis?

Assistindo a um programa jornalístico, um vídeo chamou atenção: a imagem de um ônibus, transporte coletivo municipal, de qualquer cidade brasileira, incendiado. Menos a matéria, o texto; mais a imagem, uma vez que, com ela, mais de uma dezena havia ficado em minha memória somente naquele mês. Protestos por motivos diversos, além de furtos e roubos dos usuários do transporte público, gente humilde, trabalhadora (e ainda esperamos que a sociedade se valha deste meio em maior grau… como, diante de tanto descuido e desalento?) são as principais causas dos praticantes. Em sua maioria, jovens.

Se considerarmos que cultura é um combinado de valores e tradições que construímos em uma sociedade dentro de um período, em uma determinada época (basta-nos lembrarmos das calças boca-de-sino e dos cortes de cabelos black-power da década de 70), perceberemos que a cultura que legamos a quem vem tem muito a ver com estas manifestações. Creditamos aos filhos dos outros estes comportamentos bestiais, aos garotos das periferias esta revolta manifesta em vandalismo. Enxergo uma só e grande causa destes comportamentos e dou-lhe nome: descolamento.

Na própria etimologia, na própria origem da palavra, está seu significado: des-colamento, uma forma de separar o que está unido, de desapegar, desgrudar – portanto, o desapego de um determinado grupo do universo maior no qual deveria estar unido, junto, fazendo parte dele.
Jovens, hoje, mantem-se conectados com um gigantesco grupo virtual, embora sentado à mesa com suas famílias e alheio ao que se passa a um palmo de seus narizes. Jovens, hoje, não mais escutam histórias à volta da fogueira, em noites enluaradas de lobisomem: estão em algum ambiente de redes sociais em seus computadores portáteis ou tablets. Jovens, hoje, não mais auxiliam a cuidar do idoso que toda residência tinha há até algum tempo, em seu lento caminhar em direção ao desaparecimento: nossos jovens estão, hoje, em festas, nos batidões, bailes funk, enfim, em alguma forma de evento em que o compasso constante e em alto e bom som impedem o diálogo.

O diálogo. Sua extinção, tal qual a de qualquer espécie da face de nosso planeta, nos priva da beleza de aprender com a experiência e as vivências de quem já muito fez por aqui, com respeito e dignidade. Com valores.

Saudosismo? Menos saudosismo, mais uma análise das causas deste descolamento. Quais são elas, as causas? Aqui vai um desafio: observemos dois jovens com formações distintas, mas da mesma idade, dentre os que conhecemos – um deve ter convivido com os avós e pais, participando ativamente da vida destes, os acompanhando aos especialistas em consultas médicas e em ritos religiosos, independentemente de quaisquer que sejam suas crenças (se o conseguirmos encontrar, obviamente). O outro jovem, ao contrário, deve ter convívio quase exclusivo com amigos, daqueles que ficam conectados e que os pais sempre reclamam de sua ausência.

Nossa resposta está justamente na diferença entre um e outro. Ou, se preferir, em nosso próximo artigo.

Marcos Boldrin, mestre e especialista em segurança pública
http://marcosboldrin.com.br