Excelentíssimo senhor cidadão de Marília, boa tarde.
O militar aposentado Armando da Silva, 81 anos, faleceu neste sábado vítima da dengue, mas isso o senhor já deve saber. Talvez não saiba, mas Armando fez aniversário dia 2 de fevereiro.
Provavelmente saiba que ele era sogro de Maurício Luiz da Silva, um funcionário do setor de manutenção do complexo Famema, em uma família religiosa. E que Maurício perdeu o irmão, Marcelo, há poucos dias, vítima da dengue também.
Senhor cidadão, Armando faleceu no dia em que a Prefeitura, o seu governo – é, ele é seu, é da cidade, foi escolhido por você – anunciou que passará a exercer o seu direito e dever de multar quem não cuida da limpeza de forma correta em suas casas.
Autuar quem não cumpre a lei é sempre uma medida correta, embora o modelo do decreto e o prazo de 24h pareçam idiotice. Na verdade todos os moradores tiveram muito mais que isso de prazo para limpar suas casas.
Cidadão, seu governo tinha informações de epidemia iminente há dois anos, desde 2013. São 24 meses. E não parece que tenha se aplicado na limpeza. Como multar essa conduta?
Seu governo sabia desde outubro que a cidade estava em situação de epidemia. Foram dois meses antes do pacote de medidas anunciadas a partir de janeiro. Como multar a demora de dois meses?
Seu governo contratou para ajudar na limpeza uma empresa que subcontratou funcionários em Marília. Não dava para ter contratado aqui, em outubro? Ou mesmo ter feito uma licitação até janeiro?
Sabendo de tudo isso – a epidemia iminente, a falta de estrutura e servidores capacitados para uma explosão de demanda, a epidemia já instalada – seu governo nada disse ao povo de Marília até janeiro de 2015, embora esteja na mídia todo santo dia desde o seu primeiro ato como eleito.
Há como estabelecer multas para isso?
Mas o pior mesmo, é ver em meio à esta epidemia, em meio às mortes, um jogo publicitário ofensivo, plástico, mentiroso. Não é hora de mentir assim. O seu governo aparece na boléia de caminhões de limpeza ou armado de camiseta para catar garrafas plásticas.
O seu governo, cidadão, aparece enfeitado com um capacete de obras em vistoria a uma casa, um imóvel isolado fiscalizado como “grande ação”.
Grande ação teria sido evitar a epidemia, agir mais rápido quando ela se manifestou e mostrar maior sensibilidade nas ações públicas. Há pelo menos 11 famílias tristes como não deveriam estar, inconsoláveis.
O seu governo vai dizer a elas que está pessoalmente pegando garrafinhas? Não é o que se espera.
O seu governo, cidadão, pode revelar liderança única na história da cidade e pode ser maior que a epidemia, maior do que aparecer na boléia do caminhão, na frente das câmeras.
Pode ser o governo que desenvolve planejamento para conter a epidemia e para que ela não volte. O governo que reformule e inove n coleta e destinação de entulho – a coleta seletiva, por exemplo -, que inova na estrutura das equipes de saúde em contato com o povo.
Ou pode ser o que vem se mostrando, pode até ser até repetido em novos mandatos, revelar longas carreiras com seguidores fidelíssimos.
É isso que você quer, cidadão? Então que tal dizer ao seu governo o que você espera dele. Pode fazer isso desde já e continuar dizendo até a eleição.