“Vem viver a vida com alegria, vem brincar o Carnaval” (by Celso Fonseca e Ronaldo Bastos). Viver 5 dias pelo menso como em um sonho, um momento em que podemos ser qualquer um, um pirata, um marinheiro, uma odalisca, um palhaço. Mulher, homem. Fantasia. O Carnaval de Salão, praticamente desapareceu, (porque os clubes sociais já não são o que eram na minha infância e adolescência e início de juventude entre 1959 e 1990, um espaço de convivência social, de flertes e namoricos).
Mas permanecem em alguns eventos especiais, como o Baile Bagunça do Circo. O Circo, uma chácara que inicialmente apenas se jogava futebol, tornou assim, uma instituição que fomenta a Cultura, e faz permanecer viva a tradição da marchinha, da fantasia, dos blocos (nas ruas) e da alegria que remonta Roma antiga e passando pela Renascença, chega a Veneza (com seu ainda tradicional Baile de Máscaras). Nosso Carnaval de Salão teve origem no Baile de Máscaras veneziano e francês (Bal Masqué) como reação ao brutal e nada sofisticado “Entrudo” de ruas. Com ele vieram as fantasias e os personagens da Commedia dell’Arte da Renascença italiana e francesa.
Commedia dell’arte: O roteiro tradicional (contrapondo-se à comédia erudita) era dos innamorati, os apaixonados e seu desejo em casar. Entretando, um vecchio (velho) ou vários velhos (vecchi) que querem evitar o casamento e, assim, envolvem um ou mais dos zanni (servos) para ajudá-lo. Avareza, inveja, gula, preguiça, luxúria, ira e soberba misturados a um ambiente de intriga, sensualidade e muito humor satírico.
Vou tentar recompor alguns personagens além dos conhecidos Pierrot, Arlequim e Colombina. Pierrot é um romântico e sonhador, apaixonado pela Colombina que eu mocinha linda e namoradeira, fútil e brincalhona. Arlequim é malandro e esperto e exerce um fascínio sobre Colombina, quase inexplicável. Jorge Amado teve em que se inspirar para compor o triângulo amoroso de “Dona Flor e seu Dois Maridos”.
Os outros personagens da Commedia também são lembrados nos Bailes em fantasias improvisadas ou estilizadas. Além disso, são personagens que encontramos em estado razoavelmente puro ou mesclado na vida real. Polichinelo é preguiçoso, comilão, beberrão, popularesco. Malandro e…fofoqueiro. Não lhe faça nenhuma confidência. Será um segredo… de polichinelo.
Brighella – Um zanno trapaceiro, de pouca moral e desmerecedor de confiança. É retratado como agressivo, dissimulado e egoísta. Amigo inseparável de Arlequim. Brighella é mais cínico e astuto, além de ser libidinoso. Ele é o iniciador das intrigas que giram na trama.
Graziano, ilI Dottore. O doutor. Visto como o homem intelectual, mas geralmente essa impressão é falsa. Ele é o mais velho e rico dos vecchi. Geralmente, interpretado como um pedante, avarento e sem o menor sucesso com as mulheres. Usa uma toga preta com gola branca, capuz preto apertado sob um chapéu preto com as abas largas viradas para cima.
Capitão Spavento: a figura barroca e espalhafatosa do Capitão era fortemente caracterizada por uma série de atributos marciais: perna propositada à frente que, ao andar, batia com estrondo no chão, peito demasiadamente arqueado, espada interminável, fato garrido e com muitos contrastes de cores, chapéu com plumas, penachos, cinto, punhais… Na verdade, o fato era uma caricatura dos uniformes militares do seu tempo. Todo o aspecto devia impressionar e a linguagem era, necessariamente, truculenta e imaginativa. O importante era que fosse o mais insólito e bizarro possível.
Pantaleone– Um dos vecchi. Muito rico e muito avarento. O arquétipo do velho pão-duro. Não se preocupa com mais nada além de dinheiro. O cavanhaque branco e o manto negro sobre a roupa vermelha. Possui uma filha casadoira e é ele próprio um cortejador tardio.
Scaramuccia ou Scaramouche, é um malandro falastrão. Usa uma máscara de veludo negro, assim como também são suas roupas e seu chapéu. Um bufão, geralmente retratado como um contador de mentiras. Também conhecido como um hábil espadachim.
Outros personagens foram criados e até hoje vêm alegrar nossos salões e desfiles de escolas de samba.
O Carnaval este ano, no Brasil, apesar do momento de descrédito político e das instituições vai acontecer. As marchinhas e as fantasias satirizam isso. Esse é o nosso toque especial: o humor. Carnaval é brincadeira, é humor. Uma tradição nossa que a falta de recursos financeiros e a crise econômica autêntica ou não impede. Afinal, como diz a música de Pedro Caetano(*1911-1992*): “Com pandeiro ou sem pandeiro, eu brinco, com dinheiro ou sem dinheiro eu brinco”.