Marília

Coordenador de UTI do HBU divulga retrospectiva da Covid 19

Coordenador de UTI do HBU divulga retrospectiva da Covid 19

Era carnaval no final de fevereiro de 2020, e se via nos meios de comunicação apenas o pânico da China, e que não demorou a invadir a Europa, dando início às primeiras reuniões e discussões de estratégias dentro da (ABHU) Associação Beneficente Hospital Universitário, mantenedora do HBU (Hospital Beneficente Unimar), com a formação do Comitê Interno Covid 19. Dentro desse comitê, observando pânico que se instaurava e a certeza da chegada da doença confirmando os primeiros casos nas capitais, porta de entrada via aeroportos internacionais, superlotados pela festança iminente, nascem as primeiras ideias que se mostrariam um sucesso durante a pandemia.

A divisão estrutural da instituição em duas zonas, chamadas de roxa (covid-19) e branca (outras patologias), com o mínimo de comunicação entre elas, associada à produção exaustiva de treinamentos, regadas a café e salgadinhos, que invadiam as madrugadas, atualizando quase que diariamente as diretrizes conflitantes e cheias de incertezas, o projeto foi tomando corpo.

É impossível esquecer dia 30 de março de 2020, quando internamos nosso primeiro paciente positivo. O medo era evidente no rosto das pessoas e a nossa sensação quando saíamos do hospital era de um acidente nuclear, onde a maioria das pessoas e amigos se afastavam da gente com medo da contaminação.

Dai para frente foram progredindo os protocolos e aparecendo os resultados desse trabalho, que tiveram como marco o uso da dexametasona, um remédio simples, antigo e barato, sem efeitos colaterais, que reduziu a mortalidade do SARS – COV 2 em 30%, mesmo em meio a brigas políticas em torno da hidroxicloroquina, sem efetividade no tratamento. Daí para frente, iniciou-se quase que uma corrida bélica em torno da vacina, onde cada país e cada laboratório queriam ser os primeiros a apresentarem o produto final a todo e qualquer custo.

Em meio a esse cenário, nós do grupo de frente sofríamos amargamente com as famílias e suas perdas: avós, pais e filhos, vítimas desse vírus, abandonaram seus lares para sempre, deixando um espaço eterno em nossos corações. Não podemos esquecer o desafio dessas famílias que, por protocolos de segurança, nem uma despedida digna puderam ter, sendo seus últimos momentos registrados em visitas por videoconferência.

Hoje colhemos o fruto dessa batalha com quase 900 casos atendidos e uma mortalidade hospitalar das mais baixas do mundo, beirando os 5%, e colocando nosso município como um exemplo a ser seguido no estado. Dentro das infecções dos nossos soldados, temos outro número a comemorar, pois nenhum médico atuante diretamente na linha de frente foi contaminado.

Aqui finalizo esse relato, agradecendo a todos que nos ajudaram nessa luta, com doações de insumos e trabalhando diretamente no comitê e na linha de frente que conta com mais de 200 funcionários entre todas as categorias laborais. Deixo uma mensagem em nome de todos: frequente preferencialmente lugares abertos, se for imprescindível a frequência em lugares fechados, use máscara e evite ar condicionado; evite banheiros públicos e quando der descarga abaixe a tampa; higienize as mãos antes de tocar nos olhos e na boca e, por último, não perca o convívio com as pessoas amadas, diga mais eu te amo e menos eu também.

Piero Biteli é médico cardiologista e coordenador da UTI (Unidade de Terapia Intensiva) da ala de covid-19 do HBU (Hospital Beneficente Unimar)