José Antonio Dias Toffoli, nascido em Marília em um aniversário da República no dia 15 de novembro de 1967, criado no bairro Alto Cafezal, depois em fazenda, estudou química com o Moraes, biologia com o Raul e até os 18 anos acumulou experiências comuns a centenas ou milhares de marilienses. E nesta quinta, dia 13, vai fazer história levando o nome da cidade.
Toffoli será empossado presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), a mais alta corte do país, e até o dia 7 de outubro será, por conta da legislação eleitoral, o segundo nome na linha de sucessão presidencial. Até a posse do novo presidente será o quarto nome nesta lista.
No dia da primeira comunhão, em frente ao prédio da prefeitura
Formado em direito pela USP, na consagrada faculdade do Largo São Francisco, no centro de São Paulo, foi advogado, consultor jurídico do movimento sindical, ocupou cargos públicos na prefeitura da capital e no Estado, advogado em Brasília, nomeado Advogado Geral da União e depois ministro do STF no governo do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva. Termina aqui a parte mais conhecida da biografia.
José Antonio, como é chamado na família, tem os primeiros 18 anos de vida em Marília para contar e uma relação forte com a cidade que não se perdeu.
Da esquerda para a direita – Maria Esther, José Carlos, José Luiz, José Eugênio e Maria Eloiza; no meio José Vicente e José Ticiano; embaixo José Antonio – José Eduardo não havia nascido
É o oitavo filho do casal Luiz Toffoli e Sebastiana Seixas Dias Toffoli. São sete Josés e duas Marias: José Luiz, José Eugênio, José Carlos, José Ticiano, José Vicente, o ministro e José Eduardo, o Du, que tem síndrome de Down e um centro emocional e de carinho família, Maria Eloiza e Maria Ester.
Quando nasceu a família vivia na casa de número 969 na rua Lima e Costa, em frente à escola estadual Gabriel Monteiro da Silva. Foi lá, na escola pública, que ele cursou a primeira série.
Eram nove irmãos, o pai cafeicultor, filho de imigrantes italianos, e a mãe, professora, que deixou a profissão para cuidar da família quando ela cresceu tanto. A primeira casa, na Lima e Costa, tinha quatro dormitórios, para os pais, as irmãs, e a divisão entre os irmãos.
Na Fazenda Floresta: José Antônio, José Luiz e na caçamba do trator Agrale o irmão caçula, José Eduardo (Dú)
Em 76, a família se mudou para a casa da fazenda do pai, uma propriedade a 14 km do centro. Na zona rural ele passou a infância e início da adolescência, mas vinha para a cidade todos os dias frequentar aulas no colégio Cristo Rei, onde foi matriculado a partir da segunda série.
“Tive bons professores na área de Matemática. Professor Moisés, que eu me lembre. Na área de Química, o professor Moraes. De Biologia, o professor Raul. Tive bons professores. Tive um professor de Português, mas só um ano, que fazia com que a matéria fosse atrativa, o professor Edgar”, disse o ministro em um documentário produzido pela Fundação Getúlio Vargas.
Houve ainda a professora Cilene, no terceiro colegial – que, ao mesmo tempo, era um preparatório para o vestibular, José Antonio não fez cursinho para entrar na USP -, a professora Tassara, de História.
José Eduardo e José Antonio, os filhos mais novos de Luiz e Sebastiana Dias Toffoli
“Nunca fui para a creche, nem para pré-escola, eu já fui direto para o primeiro ano de curso do primário. A professora Josefina chamou a minha mãe porque eu tinha feito todo o livro de Matemática, do ano inteiro, no primeiro final de semana. E a professora achava, então, que a minha mãe é que tinha me ajudado a fazer, aí ela falou: ‘Não, não, ele é que fez’.”
Os 14km de viagem para chegar à escola eram momento de encontro de irmãos. Todos na mesma escola. Os mais velhos tinham aula a partir de 7h10. José Antonio às 8h, mas tinha que acordar mais cedo para a carona familiar.
O opala quatro portas do pai – aquele de bancos inteiriços, câmbio de três marchas junto ao volante – era motivo de chacota: só taxistas ou órgãos oficiais tinham carros com quatro portas. Parte dos filhos vinha pela manhã, voltava com o pai na hora do almoço e seu Luiz retornava à cidade duas vezes à tarde para trazer e buscar a segunda turma de filhos na escola.
José Antônio e o José Eduardo, os filhos mais novos, com a cachorra Aska na Fazenda Floresta – estrada Marília/Avencas
José Antonio morou na fazenda até 1980. Voltou pré-adolescente para morar com a família na avenida Brigadeiro Eduardo Gomes. Jogou bola com amigos, muitos deles filhos de frequentadores da chácara O Circo, onde o ministro mantém relações de amizade até hoje e é alvo das piadas e brincadeiras como qualquer outro integrante.
Frequentou bares que foram famosos na década, o Pé de Manga, o 515 na avenida Rio Branco. Em Marília José Antonio conheceu a primeira esposa, aqui nasceu a filha, Pietra.
Os irmãos mais velhos já saíam para estudar e passaram a ser influências sobre a efervescência política. José Luiz, que mais tarde seria vereador, foi diretor do Sindicato dos Bancários e candidato a prefeito, e José Carlos, o padre Carlão, que hoje responde pela paróquia da Sagrada Família na zona norte, eram centro de atenções sobre as discussões políticas.
Primeira comunhão, com os pais Luís e Sebastiana e o tio Monsenhor João Baptista Toffoli, na frente da antiga igreja Nossa Senhora da Glória
A formação religiosa era outra marca da família Toffoli. Antes de um irmão tornar-se padre, José Antonio conviveu com um tio religioso, Monsenhor José Baptista Toffoli, que estava lá quando ele fez a primeira comunhão.
“Minha formação religiosa não foi em razão do colégio, mas da própria família. A própria família deu a mim, e a todos nós irmãos, uma formação religiosa católica romana, católica apostólica romana. Eu tive uma formação religiosa daquele estilo mais rígido, mas com muita liberdade de consciência e muita liberdade de expressão. Eles ensinavam a ideia do livre-arbítrio, naquela linha mesmo de Santo Agostinho, que nós é que fazemos o nosso destino, ou seja, o nosso destino é de nossa responsabilidade”, conta o ministro.
Em encontro da família Toffoli, com a prima Zelinda Furlanetto Finotti , prima do pai de José Antonio, Luiz
Era uma vida católica mas com ampla liberdade crítica, compreender que também existem outras formas de ver o mundo, conta na entrevista á FGV.
Apesar de apaixonado por matemática, nunca pensou em cursar ciências exatas. Imaginou primeiro fazer Ciências Sociais na Unesp da cidade. Foi até conversar com uma professora da instituição. Até que o namorado da minha irmã – depois se casaram, mas se divorciaram –, Jorge, médico, entrou na história.
José Antonio Dias Toffoli no dia da posse como ministro do STF, em 2009
“Não vai fazer Ciências Sociais não, que você vai passar fome, como os engenheiros estão passando fome. Já que você não gosta de Medicina – e ele era médico –, vá fazer Direito. Porque o Direito te dá um campo muito grande. Inclusive, depois, se você quiser, pode fazer um mestrado ou um doutorado em Sociologia, em Antropologia, algo do tipo. Então, vá fazer Direito porque, pelo menos, o Direito vai te dar oportunidades econômicas.”
E a USP deu mais que a formação jurídica e influência profissional. No pátio da faculdade viu alguns dos maiores artistas do Brasil cantando. A sala do estudante era chamada de território livre.
“Vinha gente de direita, vinha gente de esquerda. Vinha gente defender o fascismo, vinha gente defender o comunismo e toda essa gama de ideologias eu vi passar na sala do estudante e em palestras. E, no pátio as festas e os shows, que são uma tradição. A Joan Baez, por exemplo, foi lá umas duas, três vezes.”
Também na USP acompanhou muitos debates políticos. Ouvia de Lula e Leonel Brizola a Delfim Netto. Envolveu-se em campanhas políticas, em movimentos sociais e com grandes lideranças do Estado. Mas sempre votou em Marília.
Sessão de posse no STF, sob presidência de Gilmar Mendes e com a presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
Formou-se em 1990. Dois meses depois de colar grau tinha a carteira da OAB. Atuou em diversas áreas de direito até 1995, quando muda-se para Brasília. Começou na atuação com o movimento sindical, acompanhou casos de homicídio de lideranças rurais em todo o país.
Saiu daí o convite para atuar na Assembleia Legislativa em São Paulo. Fim da história pessoal, começa a história pública que segue em evolução nesta quinta, quando José Antonio Dias Toffoli, de Marília, assume a presidência do STF.