Desistir, as vezes é preciso!

“(…)Eu vou recomeçar
Como se hoje fosse
O primeiro dia do mundo
Não me machucar
Nem perder a hora
De saber o que será(…)

Música: Recomeço
Composição e intérprete: Flavia Wenceslau

Há algumas semanas as redes sociais foram inundadas com a notícia de que o casamento de Sandy e Lucas Lima havia terminado o que inevitavelmente suscita inúmera reflexões, comentários e considerações. É comum observar na atual conjuntura uma narrativa de que desistir é algo impensado, errado e indevido. Será mesmo? O que a palavra desistir evoca em você? Fracasso, fraqueza, vulnerabilidade, recomeço, caminho, possibilidade? Ou alguma outra coisa?

Muitas vezes na vida iremos ter de repensar a rota, questionar, revisitar a própria história, ressignificar afetos, rever paradigmas e recomeçar. Todo fim precede algum recomeço e para que haja fim é preciso aceitação do que não faz mais sentido, aceitação de que é necessário soltar e deixar.

No momento em que fazemos uma escolha necessariamente desistimos de algo, cada fase de nosso desenvolvimento nos leva a desistir de características, sonhos, desejos, ideias que antes faziam sentido e param de fazer, dando lugar a outras perspectivas, relacionamentos conjugais, amizades, familiares se modificam com o tempo impelindo a serem revistos e por vezes finalizados, para construirmos novos hábitos é preciso desistir dos antigos, etc.

Na relação consigo mesmo essa premissa também faz parte, em processos psicoterapêuticos, por exemplo, ao entrar em contato com dimensões difíceis e desconfortáveis de si, aos poucos desenvolve-se consciência sobre os próprios movimentos proporcionando a possibilidade de fazer novas e adequadas escolhas de como seguir pela vida, mas todo esse processo implica em abrir-se a desistência de quem se era para quem vem a ser.

Existe uma metáfora muito bonita que ilustra isso, na semente plantada existe toda uma força de vida, ela tem em si a estrutura necessária para germinar e brotar, mas para que isso seja realmente vivenciado ela precisará desistir de ser semente para renascer enquanto broto e futuramente enquanto uma planta maior e mais robusta.

Uma planta que está em um espaço pequeno para a energia de desenvolvimento que vem demandando corre risco de ao longo do tempo definhar e morrer, por falta de espaço adequado, será preciso desistir daquele lugar já tão bem conhecido, porém pequeno e que não faz mais sentido para reconhecer novos possíveis espaços.

Assim é a vida da gente que ora e outra demanda rever e refazer o caminho, todo movimento de mudança implica em vivenciar o fim e a escolha de desistir do que se é ou de onde se está para seguir, nesse sentido, desistir é um processo natural da vida e não um fracasso.

O beija-flor é um pássaro que consegue voar em todas as direções, para frente, para as laterais e para traz, isso fala sobre flexibilidade e ampliação de movimentos, tem momentos que a vida demanda seguir em frente, ora e outra é preciso dançar mais para o lado, as vezes pausar é preciso ou dar alguns passos para trás, para então seguir novamente e assim sucessivamente. Te convido a refletir quantas vezes precisou desistir de aspectos, relações e/ou situações para dar lugar a algo desconhecido, mas necessário naquele momento.