Dias de cidade pequena

Esqueça  todos aqueles rankings de desenvolvimento, esqueça a grandeza do sonhado parque tecnológico, desconsidere a fortuna que grandes empresas movimentam.

A considerar o jogo político, Marília vive mesmo dias de cidade pequena. O nível das discussões encolhe a cidade apesar de todos os seus desafios e problemas de grandes centros.

O prefeito Daniel Alonso brinda a população todos os dias com impactantes vídeos sobre como o poder público está tapando buracos, apesar de as ruas antigas produzirem novos aos  montes. Comemora a chegada de água em um bairro de anos e anos.

Contra ele, a polêmica do dia foi uma discussão sobre possível superfaturamento na compra de vassouras, prejudicada por erros na interpretação do processo de licitação. A prefeitura comprou em dúzias, a discussão tratou os preços como se fossem produtos por unidades.

Tudo incensado por falta de oposição organizada ou prevalência de uma oposição única que não tem a menor proposta a não ser atacar como se fossem donos de um passado glorioso, o que não são.

Para premiar um dia de questões grandiosas, a justiça precisou ser movimentada e conceder uma liminar para obrigar uma empresa vencedora de licitação a entregar ovos para o município.

Entre a falta de ovos e as vassouras polêmicas, sumiu o debate sobre tarifas de ônibus e transporte, um problema que centro grande nenhum do país resolve, sumiu a discussão sobre a reestruturação administrativa da educação que ganhou lei com status de palpite da Câmara para criar problemas.

Passou sem muito alarde a indicação de duas empresas que vão apresentar projetos para destinação de entulhos e uma delas – a Revita – tem investimentos para criar o aterro que receberia todo o material.

Também ficou sem debate a ideia de unir Marília a cidade com até 200km de distância para montar um aterro público ainda que 14 cidades num raio de 60km estejam discutindo sua união para isso.

Não parece ter sensibilizado muita gente a ideia de que um contrato de concessão que o Daem criticou desde janeiro deve ser prorrogado na marra porque o Daem não tomou qualquer medida para encaminhar a sua conclusão.

Não se fala mais em plano de carreira, isso deve ser coisa de cidade grande.

A mais tradicional entidade de empresas – da qual o prefeito já foi presidente – acusa a administração de não cumprir acordos e ter “relação estranha com a Câmara” enquanto ameaça ir à Justiça para que a fiscalização pare de punir empresas por causa de guias rebaixadas. O debate sobre revisão do Código de Posturas? Sumiu.

Isso sem falar nas iniciativas que nem chegaram a existir, como a capacitação de lideranças nos bairros, a integração dos moradores aos debates dos problemas da cidade, as políticas de desenvolvimento de regiões que não têm bancos durante o dia ou farmácias à noite.

E tudo isso com um jogo político que trata os 235 mil habitantes como se houvesse apenas duas forças políticas nas figuras do prefeito e seus fãs e de ex-prefeitos e seus seguidores, como se não houvesse alternativas possíveis, como se a briga não caminhasse cada vez mais para mostrar como todos são parecidos. Ou como se a cidade não vivesse hoje sem emissoras de rádio, como cidades pequenas, enquanto empresas tradicionais foram desativadas na tentativa de grupos políticos controlar a programação, especialmente jornalística.

Não parece ser por acaso que todo esse clima de vazio acompanha tempos de bate-boca virtual entre o atual e o ex-prefeito, em que sobram acusações, faltam informações e em torno de tanto nada gira, uma multidão de mal assistidos ou não assistidos pelo poder público.

A cidade com sonhos, planos e necessidades de grandes centros patina no dia-a-dia das discussões pequenas.