Marília

Dinossauros - Pesquisador de Marília faz novas descobertas de fósseis em Prudente

Crânio de ave descoberto por pesquisar de Marília – Mariana Agostinho/Divulgação
Crânio de ave descoberto por pesquisar de Marília – Mariana Agostinho/Divulgação

Novas descobertas de fósseis em Presidente Prudente, que ampliam a informação sobre dinossauros em toda a região Oeste Paulista, ganham repercussão com um trabalho desenvolvido pelo paleontólogo William Nava, coordenador do Museu de Paleontologia de Marília.

Os fósseis estão depositados no Museu de Paleontologia de Marília, que é administrado pela Prefeitura de Marília, por meio das secretarias municipais da Cultura e do Trabalho, Turismo e Desenvolvimento Econômico.

Uma das novidades é a análise de um crânio de ave, que revelou características anatômicas e algumas conclusões paleobiológicas, o que permite divulgação com dados técnicos.



São aves de um grupo extinto conhecido como Enantiornithes, e tinham o tamanho aproximado entre um beija flor e um pardal. Eram voadoras e possuíam dentes, indicando serem carnívoras.



Outra descoberta importante e rara em nível nacional é uma sequência de minúsculas vértebras, totalizando cerca de 60 delas. Trata-se de um esqueleto, muito pequeno, de uma serpente que viveu também na época dos dinossauros. Deveria medir em vida entre 40 e 60 cm de comprimento.



“Não sabemos ainda que espécie de serpente primitiva é esta, pois o material é bastante frágil e requer cuidados na preparação” afirmou Nava. Foram encontrados na verdade, dois esqueletos de serpentes, um inclusive com sinais do crânio, com as estruturas levemente desarticuladas”, disse Nava.

PESQUISA 

Os achados, principalmente pequenos ossos e esqueletos semiarticulados pertencentes a aves do período Cretáceo, são coletados pelo pesquisador há quase 16 anos em um sítio paleontológico inserido em área urbana de Presidente Prudente.

Nava começou as primeiras escavações e coletas em setembro de 2004 naquele local, quando viu pela primeira vez pequenos ossos incrustados às rochas aflorando as margens de uma avenida na zona sul da cidade, no bairro Parque dos Girassóis.

Passou a escavar sistematicamente, recolhendo dezenas de blocos de arenito, contendo pequenos restos ósseos. No início de 2005 percebeu que se tratavam de fósseis de primitivas aves, de acordo com a literatura científica. Tratava-se portanto, de um grande achado para a paleontologia brasileira.

Ao longo dos anos, fazia a preparação mecânica das rochas e muitos ossinhos se destacavam na rocha, a maioria isolados ou compondo apenas partes do esqueleto.

Em 2015, um bloco de rocha de tamanho significativo foi escavado e trazido ao Museu de Paleontologia, e ficou à espera de investigação, que só ocorreria em 2017, quando Nava começou então a remover cuidadosamente porções de rochas que cobriam alguns ossinhos, semelhantes a tantos outros que já tinha descoberto.

Mas percebeu que havia um esqueleto, que seria o primeiro de ave da época dos dinossauros até então descoberto nas rochas da Bacia Bauru, conjunto maior de sedimentos que engloba o oeste paulista, o Triângulo Mineiro, sul de Goiás e parte leste de Mato Grosso do Sul.

Somente em agosto de 2018, avançando ainda mais na preparação desse bloco de arenito contendo o esqueleto pequeno é que William Nava percebeu indícios do que seria o crânio da ave.

“Foi uma emoção e tanto, constatar que havia me deparado com um crânio de ave pré-histórica articulado ao esqueleto, uma descoberta difícil de acontecer devido à natureza um pouco caótica da formação dessas rochas há milhões de anos, geralmente originadas de transporte dos sedimentos, desarticulando os organismos. Mas neste caso, a ave teve seu corpo sepultado rapidamente por areia e argila, ocasionando sua fossilização” disse Nava.

A descoberta foi compartilhada com o Dr. Luis Chiappe, do Natural History Museum de Los Angeles, um dos grandes estudiosos de aves primitivas em todo o mundo, e parceiro, desde 2017 das pesquisas com o Dr. Agustin Martinelli, do MACN – Museo Argentino de Ciências Naturales, de Buenos Aires.

Ambos têm vindo à Marília para ajudar no estudo desses fósseis. Estiveram em Marília e em Prudente em campanhas de campo a partir de 2017, em maio do ano passado quando novos fósseis foram coletados do sítio paleontológico de Prudente.

O sítio paleontológico das aves de Presidente Prudente tem merecido atenção especial por parte dos paleontólogos, pois é local único no Brasil onde se encontram esses pequenos vertebrados associados e em excelente estado de preservação.

Em fevereiro, a prefeitura de Prudente fez o tombamento do local, como Patrimônio Paleontológico e Geológico, através de requerimento, assegurando a integridade do sítio e garantia de que as escavações podem continuar indefinidamente. Esta semana iniciou o isolamento do sítio por meio de cercas.

Aproximadamente 2000 fósseis já foram retirados desse sítio paleontológico em quase 16 anos de escavações. Um salvamento paleontológico, pode -se dizer, enriquecendo a paleontologia brasileira e revelando novos táxons que habitaram o oeste paulista há milhões de anos.

Atualmente, as regiões de Marília e de Presidente Prudente estão entre as mais ricas em fósseis da Era dos Dinossauros de todo o Brasil, atraindo a atenção e curiosidade do público em geral e da ciência.