Uma “nota política” divulgada em redes sociais pelo Diretório Acadêmio Cristiano Altenfelder, que representa os estudantes de medicina da Famema, aponta aproximação de uma “tempestade perfeita” na instituição e defende a investigação da Polícia Federal e Justiça no Complexo.
A carta ainda aponta a gestão pela Famar e o subfinanciamento promovido pelo Governo do Estado como culpados pela crise da instituição e indica que nesse sentido a ação judicial sobre escândalos de terceirizações não resolve o problema da Famema.
“Saudamos em 2015 a Operação Esculápio quando surgiu e continuamos acreditando que seu trabalho foi fundamental em desvelar os acordos que diversos gestores da faculdade fizeram para fraudar licitações, desviando verba pública em prol de interesses particulares”, diz o documento.
A carta é resultado de um debate promovido em encontro dos estudantes na segunda-feira e envolve também funcionários ligados à Fumes (Fundação Municipal de Ensino Superior), primeira instituição criada para gerir o complexo que acabou afundada em dívidas, perda de crédito e certidões. A Famar (Fundação de Apoio à Faculdade de Medicina de Marília), privada, foi criada para substituir a Fumes.
“Além de entregar a gestão para uma fundação privada, o Governo do Estado vem subfinanciando a FAMEMA desde sua estadualização, em 1994 e o Hospital das Clínicas de Marília desde sua fundação na década de 60”, aponta o documento divulgado pelo diretório.
Veja abaixo a íntegra do documento
“Nota Política do Diretório Acadêmico Christiano Altenfelder (DACA) e da Associação de Funcionários da FUMES (AFFMESM) sobre a Operação Esculápio
A tempestade perfeita se aproxima da FAMEMA! Isso não nos surpreende. Dentro do movimento estudantil e do movimento dos trabalhadores sempre denunciamos e continuamos a denunciar o mau uso do dinheiro público na administração do Complexo FAMEMA.
Saudamos em 2015 a Operação Esculápio quando surgiu e continuamos acreditando que seu trabalho foi fundamental em desvelar os acordos que diversos gestores da faculdade fizeram para fraudar licitações, desviando verba pública em prol de interesses particulares. Já à época, no entanto, denunciávamos a demora para que nossas denúncias fossem de fato investigadas.
Após a quebra do sigilo dos autos da operação, devemos esclarecer nossas bases – cada trabalhador e estudante da FAMEMA – de que nossas suspeitas sempre estiveram corretas. Precisamos entender que a disseminação de tais práticas não foi acidental, mas sim consequência da decisão política de se entregar a gestão do bem público, famigerado Complexo HC-Famema – agora autarquias independentes – a uma fundação privada: A FAMAR. O epicentro da gestão do complexo hoje, não tem os mecanismos de transparência que a FUMES tem, favorecendo a execução de ações em detrimento do bem público e interesses sociais.
Por que então se criou a FAMAR? Após a implantação do Plano Real, e subsequentemente da Lei de Responsabilidade Fiscal, a FUMES perde seu título de filantropia, sendo obrigada a arcar com os encargos trabalhistas que eram até então de responsabilidade do Estado.
Isso inviabilizou seu funcionamento, e o que se apresentou como alternativa, pelo próprio Ministério Público, foi a criação de uma fundação privada, cuja legislação atente a seus próprios interesses, blindada contra o controle da comunidade.
O Estado agora conseguiu eliminar de suas contas os encargos trabalhistas devidos aos trabalhadores da FUMES. E para que destina esse dinheiro pertencente ao trabalhador por direito? Para o pagamento da cada vez maior dívida pública, de banqueiros e de empresários donos de grandes fortunas.
Além de entregar a gestão para uma fundação privada, o Governo do Estado vem subfinanciando a FAMEMA desde sua estadualização, em 1994 e o Hospital das Clínicas de Marília desde sua fundação na década de 60.
O quadro de subfinanciamento crônico somado a uma gestão imune a transparência pública permitiram que, para suprir exigências cada vez maiores de complexidade, a FAMEMA fizesse tais contratos fraudulentos, alvos hoje da Operação Esculápio.
Por isso sabemos que as ações do Ministério Público e da Polícia Federal em nossa faculdade – ainda que fundamentais para expor as vísceras do sistema podre que controla a FAMEMA desde sua criação – não toca naquilo que é fundamental para a solução do problema: a falta de verbas, que atingirá seu ápice no ano de 2018.
Precisamos de união entre todos os trabalhadores e estudantes do complexo, só assim poderemos dar um basta nessa situação, colocando nosso ambiente de trabalho e a saúde pública brasileira como prioridades para nossa sociedade.
Nos momentos difíceis como esse, quando a luta parece não apresentar mais perspectiva, quando tudo parece já estar perdido, é precisamente quando nossa forças derrubam as barreiras da inércia do dia a dia.
É a emergência da situação que nos dá a coragem que nunca soubemos estar guardada dentro de nós e a força que une cada trabalhador e estudante em um só objetivo. A boa notícia é que essa mobilização não é mais apenas possível, como sempre foi, mas hoje é necessária e inadiável.“