Quase dez dias depois de lançar o tal Plano São Paulo e as regras de restrições o governo do Estado de São Paulo não apresentou planilhas decentes que mostrem ao público de cada região do Estado a análise de cada critério e uma definição clara e direta dizendo porque receberam a classificação vermelha, laranja ou amarela.
O site oficial do governo, canal de informação que deveria ser correta, é fraco, pra dizer o mínimo. “Atualizado em 4 de junho” mostra Marília com 79 casos, marca ultrapassada há vários dias na mesma data em que a cidade anunciou e a Regional de Saúde já conhecia 116 casos.
Em 70 dias de exaltação aos comitês de cidades, comitês de empresas, encontros com grandes nomes da economia não há dados claros do tamanho do rombo comparado aos investimentos que fez para salvar a economia.
“Vai passar” é o discurso emotivo mais comum do governo. Não vai passar tanto assim para quem falir, para quem sem emprego ou renda cortar padrões de vida da família, para quem passa fome, para quem perdeu a vida ou perdeu um ente querido. Quase passa, mas isso não é motivacional e o governador não vai falar nunca.
Do outro lado do muro, onde as duas crises batem na porta, Daniel Alonso transitou nas diferentes linhas dos discursos: defesa da ciência e vida, duas epidemias, os apelos públicos a autoridades e mais recentemente a generosa visibilidade em grandes meios de comunicação.
Culminou com pedido para falar pessoalmente a um desembargador que em tese deve analisar se a legislação de Marília é constitucional ou não. Talvez se houver que “quarentena não é vacina”, frase de impacto escolhida pelo prefeito, decida que a lei é constitucional.
Daniel também não recebeu ou não produziu e nem mostrou, a planilha dos critérios que justifiquem classificação ou restrições, nem os dados claros da economia na cidade.
Sem isso, acostumou-se a repetir que “o governo errou, errou feio” e que Doria não quis admitir o erro, na visão de Daniel para não criar problemas com outras cidades.
Não fala do aumento acelerado dos casos confirmados na cidade ou a falta de exames. O prefeito anunciou compra de milhares de testes. A cidade tem em torno de 550 notificações e 20% delas mostram casos confirmados.
Fossem feitos dez mil exames seria possível pensar que haveria 2.000 confirmados?
Entre os confirmados há poucos óbitos e muitos já considerados curados. Ótimo, a ideia de todo trabalho é esse.
E o discurso pode ficar pior. Em um encontro com representantes de entidades religiosas, Daniel diminuiu o comitê municipal de enfrentamento da crise. Lançou proposta de abertura das atividades e falou que não iria publicar o decreto no dia.
“Por que? Porque tudo aquilo que a gente deliberar aqui por questão de respeito a gente vai apresentar ao comitê e na sequência anuncia, fica muito deselegante publicar, anunciar sem antes apresentar para eles, só questão de valorizar o comitê realmente”. É, valorizou bastante o comitê que em tese não decidiria nada. Atualizando, a proposta foi oficializada nesta sexta (5).
Opositores ficam felizes com críticas à conduta de Daniel. Uma bobagem. Nenhuma força política de expressão na cidade agregou mais informação, mais respeito e menos jogo eleitoral. Estamos órfãos de dados, de certezas e de lideranças.
Estamos no meio do jogo das palavras. Real mesmo nas ruas só existem duas coisas: uma epidemia (duas se você contar a dengue) e uma enorme crise econômica.
E só aqui o discurso oficial bate: sem informações, temos para enfrentar todas as crises com criatividade, fé e esperança, não há muito mais na mesa para usar.