A enfermeira Renata Andrea Pietro Pereira Viana, que nasceu em Garça e cresceu em Marília, onde se formou pela Famema, nomeada para dirigir atividades nos hospitais de campanha da crise do coronavírus em São Paulo, enfrenta a luta contra epidemia com outras causas nobres: proteger profissionais da saúde na “guerra contra oi vírus” e depois dela.
Em uma entrevista divulgada por redes sociais nesta terça-feira, Renata fez um alerta importante: profissionais de enfermagem saíram da invisibilidade para serem protagonistas na crise, mas precisam muito mais que aplausos.
Renata Pietro divulga projeto voluntário de produção de EPIs para profissionais em Sâo Paulo
“É muito gratificante o aplauso. Mas enfermeiros podem trabalhar 80h por semana e isso não é ilegal. Não existem leis que possam beneficiar essas pessoas”, disse Renata.
Segundo a especialista, há uma possibilidade de “colapso para estes profissionais” pela união de diferentes fatores de desgastes: jornadas de trabalho exaustivas sem descanso adequado, falta de equipamentos de proteção, medo de levar o vírus para suas casas e até medo de reações violentas nas ruas.
Renata Pietro acumula posições de sucesso e visibilidade. Presidente do Conselho Regional de Enfermagem em São Paulo, diretora no Hospital do Servidor Público, autora de importantes livros em saúde e referência no setor, será responsável pela elaboração dos protocolos de enfermagem que serão as diretrizes para a atuação da categoria nos hospitais de campanha.
Reunião com prefeito de São Paulo, Bruno Covas, e o secretário municipal da Saúde na Capital, Edson Aparecido, na nomeação para comitê do covid-19
As atividades provocaram seu afastamento do Conselho. Mas podem ajudar muito os profissionais. “Vimos caso de população agredindo profissionais que iam ao trabalho e que tinham na roupa nome de uma instituição. São profissionais que foram retiradas de vagão, que sofreram agressões físicas e verbais. Imagine o que é o cenário para estas pessoas”, diz a enfermeira.
Agrega a isso as situações de tensão nos hospitais como saber que um colega foi contaminado, não ter equipamentos de proteção suficientes ou não ter proteções que outras categorias têm.
“Saímos da invisibilidade e falta de reconhecimento a um lugar de atores principais em uma trágica história de pandemia. É muito difícil trabalhar em um cenário como esse. O mundo não estava preparado para a pandemia. E 60% do corpo da saúde é composto por enfermeiros, técnicos, auxiliares…todo mundo pode imaginar que desgaste tanto físico quanto psicológico é uma questão também de saúde pública.”
Renata Pietro com o médico David Uip, coordenador do comitê de contigencia do coronavírus no Estadoi
A enfermeira destaca que os profissionais precisam de jornadas regulares, piso salarial que não existe, proteção para as famílias inclusive na questão financeira.
“Politicamente podemos criar leis que favoreçam e levem segurança aos familiares. Temos casos de profissionais que morreram e não existe proteção aos familiares, eram eles que levavam dinheiro. Se olhar para categorias como militares existe lei de proteção que mantém as famílias em caso de fatalidade”, explica
Também propõe medidas de segurança, como linhas de investimentos para que indústrias direcionem sua produção para fabricar EPIs
“E a proteção trabalhista? Reduz o descanso e o que deixa é uma equipe mais exausta, com imunidade reduzida e chance também de estar na linha de frente se contaminando. Um momento importante para que a sociedade faça essas discussões.”
Renata tem experiência de décadas de atuação em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs). É presidente do Departamento de Enfermagem da Associação Brasileira de Medicina em Terapia Intensiva (AMIB) e Embaixadora da Federação Mundial de Enfermeiros em Cuidados.