Honrada. A enfermeira Suellen de Oliveira Ferreira Crepaldi, 38 anos, especialista em Urgência e Emergência em Marília, descreve assim os 11 dias de trabalho com o que chama de aprendizado para vida em atuação com a Força Nacional do SUS no atendimento às vítimas da crise climática do Rio Grande do Sul.
Suellen chegou à Força Nacional por convite da coordenação do Comando Operacional depois que dois representantes do Ministério da Saúde visitaram a cidade para acompanhar o estado de emergência no enfrentamento da dengue em Marília, no início do ano.
Após 13 anos de atuação em urgência e emergência – incluindo Pronto-Atendimentos e SAMU – Suellen é enfermeira na Vigilância Epidemiológica, responsável pela pasta de combate à dengue, que registrou epidemia e mortes no município. Recebeu apoio da Secretaria da Saúde – e em especial da coordenadora da Vigilância, Alessandra Arrigoni Mosquini – e foi.
“Foi impressionante ver a força e resiliência do povo gaúcho, mesmo diante de tanta tristeza e incerteza. Continuam tentando, se levantando e reconstruindo. É comum ver pessoas limpando as casas, imóveis comerciais, tentando recomeçar sua história e seus sonhos.”
Atuou na área técnica e estratégica. Resolvia demandas de hospitais de campanha, equipes volantes e atuava para que o pessoal de rua tivesse condições para dar atendimento de qualidade.
“A experiência mais marcante foi conhecer os lugares devastados pelas enchentes. O cenário é de guerra, sair e ver o nível em que a água chegou, o estrago que fez. É surreal. Não dá para imaginar”, conta.
A Força Nacional está perto de completar 60 dias no SUS com profissionais de diferentes pontos do país. Ultrapassou 20 mil atendimentos à população. Mantém quatro hospitais de campanha em operação, além de realizar atendimentos volantes, em saúde mental e indígena.
“Além da experiência profissional, a experiência de vida com que voltamos é muito maior. Vamos com intuito de salvar vidas, mas a transformação em nós e muito maior. Saio com coração alegre por poder ter contribuído, ter ajudado o povo gaúcho e ter representado muitos profissionais de Marilia que gostariam de estar lá. E me sinto honrada por ter ido.”
A enfermeira conta que o cenário parece mais controlado, mas destaca que em localidades em que a água volta a subir a sensação é de uma “tristeza, um problema que não parece ter fim, mas as pessoas continuam por lá tentando seguir a vida.”
A viagem só foi possível com o apoio da família – em especial o marido, Guilherme, e o filho, Nicolas, de sete anos – e os amigos.
“Acho que isso me deu mais tranquilidade. Amigos de trabalho me apoiaram na missão. Mas ficar longe do filho foi o que doeu mais. Tinha contato com ele todos os dias e era meu momento de descompressão, momento em que eu recarregava minhas energias para estar bem e forte para o outro dia.”
Dica para quem quer participar? “Meu conselho é que vá. Se realmente sente vocação, se é desprendido do conforto, disposto a trabalhar por muitas horas, se não tem medo do novo e se tem emocional forte, porque é um ambiente totalmente de pressão, acho que a situação em si faz que seja um ambiente de tensão.”
São dias de entrega total, segundo a enfermeira. “Acorda e dorme pensando nisso, não tem como fazer outra coisa a não ser pensar em trabalhar. E se não tiver amor em trabalhar, não consegue estar lá.”
E é por isso que ela continua no cadastro e banco de dados da Força Nacional. Pode ser acionada novamente. “Tenho interesse em participar de mais missões. Amo minha profissão e tenho prazer em ajudar as pessoas no momento mais vulnerável. É isso que me move.”
A coordenadora Alessandra Arrigoni concorda com a vocação e define a enfermeira como “exemplo de funcionaria pública” e “exemplo de trabalhadora do SUS”.
“A Suellen é uma servidora de carreira que tem experiência da urgência, anos no Samu municipal, hoje na Vigilância Epidemiológica. Faz um trabalho maravilhoso por onde passa e foi convocada pela Força Nacional para sua experiência. Ficamos orgulhosos.“