Entender-se negra

Atualmente vem ocorrendo uma onda de empoderamento de mulheres negras, que buscam compreender sua identidade, sua origem e o seu lugar no mundo.

Essa é uma questão muito delicada, pois todo o problema da mulher negra na sociedade começa na infância, fica mais difícil na adolescência e depois, crônica na fase adulta.

Ser mulher negra na sociedade brasileira é complicado, e por vezes, muito doloroso. A mulher negra sofre com todas as pressões sociais: RACISMO, MACHISMO E CLASSE SOCIAL.

Primeiro: Ser mulher na sociedade e enfrentar o machismo acompanhado do sexismo massivo é horrível e desrespeitoso com o espaço.

Segundo: Ser negra na sociedade é passar por um obstáculo histórico que ainda não foi banido da mente de muitas pessoas, e isso faz com que seja mais uma fez inferiorizada.

Terceiro: Se for da classe baixa, aí é mais complicado, pois tudo para o pobre já vem de forma difícil, exemplo é a educação que é de baixa qualidade, o acesso à saúde que é precário, e muitos outros exemplos que poderia dar aqui.

É de cortar um dobrado encarar a vida mediante esse tríplice problema social, e o que quero salientar neste artigo é que hoje esse quadro vem melhorando, o entender-se negra e por fim  aceitar seus traços, sua origem, sua história.

Neuza Santos Souza em 1983 escreveu o Tornar-se Negro, em que ela realizou entrevistas com vários negros em ascensão no Brasil. Em uma dessas entrevistas que se tornou um capitulo inteiro de seu livro, a autora mostra a agonia de uma jovem negra estudante de medicina diante de sua condição de mulher negra na década de 80. Essa jovem ainda carregava em si a ideia da teoria do embranquecimento, pois já sofrera demais e não desejava que seus filhos passassem pelo mesmo transtorno, sendo assim, ela almejava se casar com um homem branco para que seus filhos fossem mais claros e não sofressem discriminação racial.

Mas lembremos de que isso essa teoria ocorre em outras esferas também, principalmente no campo da beleza negra, traços, cabelo, corpo, isso é que aflige muitas negras, e elas acabam compactuando dessa teoria alisando o cabelo, fazendo plástica no nariz, etc.

O problema disso é que a teoria do embranquecimento é chula e burra, já que da mistura entre negro e branco resulta em negro, e isso não faz diferença nenhuma no caráter da pessoa, isso é para além da etnia.

Logo compactuar dessa teoria é não entender-se, é não compreender sua história, é contribuir para a tese de que negros são inferiores, e isso sabemos é totalmente errado, sim, somos seres biológicos iguais que nos diferenciamos pela nossa etnia, e que isso não fragiliza em nada nossa condição de vida, somos capazes de tudo e mais um pouco. É quando se compreende esses fatores que a mulher negra passa a se aceitar, a se amar, é quando ela se torna livre para agir, para ir à busca de seus objetivos e consequentemente não se sentir mais inferiorizada por essa sociedade racista.

É criando essa consciência e a vivendo que a mulher negra consegue se sobressair e enfrentar os obstáculos sociais.