Um ano depois de realizar uma plenária para discutir a epidemia de dengue em Marília, a Matra (Marília Transparente) divulgou nesta terça-feira um relatório em que acusa a prefeitura de sonegar informações. Diz que a epidemia matou mais e gerou mais casos que os dados oficiais e provocou um gasto cinco vezes maior que seria com prevenção antecipada.
Segundo o relatório da plenária e estudos nos meses seguintes, divulgado na íntegra pela Matra, a epidemia atingiu até 80 mil pacientes e provocou 34 mortes nos serviços de atendimento em Marília em 2015. Em números oficiais, foram pouco mais de 15 mil casos e oito mortes. A cidade nem aparece nos relatórios dos municípios com maior impacto da epidemia.
O estudo foi postado no site da Matra nesta terça. O Giro teve acesso á publicação no final da tarde e tentou contato com o atual secretário de Saúde, Danilo Bigeschi, e com a diretoria de comunicação da prefeitura para falar sobre o estudo. Assim que a administração apresente sua versão, as informações serão divulgadas pelo site.
O número de casos divulgado no relatório foi projetado a partir de um relatório que analia dados entre 2014 e 2015. Segundo o estudo, no ano anterior à epidemia, foi registrada uma morte e pouco mais de 1.400 casos. O relatório dioz que a coleta de informações até meses após a plenária indicaria que a cidade atingiu em 2015 de 21.700 casos de pacientes infectados com a doença.
“Não é um exagero afirmar que cerca de 80.000 pessoas em Marília contraíram a dengue em 2015 e que as mortes foram muito maior do que as admitidas anteriormente”, diz o relatório divulgado pela ONG.
Assim como o controle do mosquito, o controle de informações sobre a doença também começou bem depois da epidemia e só em março, após mortes e evolução vertiginosa de casos, a prefeitura reuniu hospitais e passou a centralizar todos os dados sobre dengue. Uma página oficial na internet divulgadou dados até maio, quando foi congelada. Indicada 15 mil doentes e oito mortes.
“Em nenhum momento durante a epidemia foi possível à cidadania ter acesso ao número exato de casos e de mortes, pois a informação, que deveria ser transparente e tempestiva para ser utilizada no enfrentamento da epidemia, nunca foi apropriadamente disponibilizada ao pessoal da área de saúde e nem à sociedade como um todo, nem pela PMM ou SMS e nem pela mídia de proximidade”, diz o relatório da plenária.
O estudo repete algumas informações já conhecidas, como o fato de que a Prefeitura de Marília ignorou projeções de contaminações. A própria Secretaria da Saúde admitiu que a epidemia já era conhecida em outubro. Só em janeiro foram adotadas medidas “de emergência”.
A novidade no relatório é uma indicação de que os custos para combater a doença, transferidos para o SUS e planos de saúde no volume de atendimentos, foram cinco vezes maiores que os gastos com as medidas de controle, como a pulverização e a contratação suspeita da empresa Agroatta.
As projeções indicadas no relatório mostram que a epidemia pode ter custo em torno de R$ 20 milhões ao sistema público de atendimento em hospitais, redes de postos e serviços privados, enquanto o controle custou pouco mais de R$ 4 milhões. “Portanto, o não investimento na prevenção pode ter gerado um gasto maior de R$ 17.729.000,00, ou seja, 5,24 vezes a mais.”