Em 2012, ainda durante a campanha eleitoral para prefeitura e câmara, já estava em organização a campanha de 2016. Um processo que se agravou com os resultados da eleição. Como está em primeiro mandato, o prefeito Vinícius Camarinha tem direito a concorrer ao segundo e cada aparição pública sua coloca sua campanha na rua, isso é inevitável.
Mais. Todo mundo que apoia a situação sabe que o candidato é ele e trabalha para isso. Todo mundo com alguma visibilidade torce para conseguir uma vaga na Câmara ou no mandato para virar opção nas eleições futuras.
A oposição começa agora, com a ideia de uma frente única, a dar seu passo nesse sentido: colocar a campanha na rua, um nome definido, todos os outros em volta, com dificuldades um pouco maiores.
Para começar é uma dificuldade montar o projeto central. O projeto da situação é ser situação e viver em torno da família Camarinha, pai e filho, donos dos votos, da estrutura e dos mandatos.
A Frente Única precisa unificar os projetos, o que vai do PTB ao PC do B passando por unir PSDB e PT. Em volta de cada “p” está um ego, um nome, um potencial candidato com propostas que nem sempre combinam com as dos outros.
Isso sem falar no caso de oposições nem tão opostas assim. O PT, que em 2012 era situação e foi a vitrine apedrejada na campanha terminou o ano com um ato de caridade para dar caixa ao novo governo e em retribuição recebeu um núcleo de poder na atual administração. Deve ter sido o espírito de Natal que esparramou tanta boa vontade e bondade nos coroções. O resultado é que os petistas tem sido até poupados nos ataques dos Camarinha.
Pode ficar ainda mais cômico a partir de 2015, quando o ex-prefeito e atual deputado federal Abelardo Camarinha vira deputado estadual. Camarinha já mostrou na campanha que será governista, pretende ser o homem de Geraldo Alckmin na região e reforçou sua oferta recentemente posando para fotos ao lado dos líderes do PSDB no Congresso.Camarinha está com os tucanos do poder.
Ou seja, o PSDB terá seus nomes do diretório municipal e o governo que é PSDB, dono do poder e o caixa, terá nomes diferentes na cidade. Não é situação nova. Mas nunca perde a graça.
O passo seguinte da Frente Única é enfrentar a campanha. Custa dinheiro, custa equipe, custa mobilização. E apenas ser frente única não resolve. Nas últimas três campanhas em que houve um Camarinha como candidato direto – sem apoiar outro candidato – a situação ganhou com mais de 50% dos votos válidos, ou seja, com mais do que todos os outros candidatos juntos.
A existência de vários candidatos ajuda a situação, claro. Com apenas um turno, é bom ter opções para que os eleitores contra o prefeito possam ser divididos, enquanto os eleitores favoráveis votam juntos. A polarização resolve isso e é possível vencer. Já aconteceu em 1992 quando o promotor aposentado José Salomão Aukar venceu o ex-prefeito Abelardo Camarinha.
E aí chegamos ao desafio final, algo que a história ainda não mostrou: vencer e mudar a história na cidade. Ser diferente, transformar a mudança em desenvolvimento, em serviços melhores, em controle ou reação contra escândalos em vez de apenas trocar os nomes dos envolvidos.
Nos últimos 32 anos Camarinha e seu grupo perderam duas eleições, em 92 para Salomão e em 2008 para Mário Bulgarelli. Nos dois casos o grupo Camarinha – uma vez o pai e na outra o filho – voltou ao poder com uma enxurrada de votos inflada pela incapacidade em gerir a cidade e pelo acúmulo de escândalos.
A Frente Única pode mudar a história mas tem pelo menos seis anos de trabalho duro para isso, dois em campanha e – se tudo der certo – quatro em mandato, até 2020, quando vem o desafio de elerger o sucessor e mostrar que realmente fez uma cidade melhor. Ou falhar de novo e virar só mais uma piada no já fértil folclore político da cidade.