Comecei em 2015 a militar pela causa negra na cidade de Marília através da fanpage Negras Ginga, com foco nas temáticas que tangia a condição da mulher negra na sociedade. De lá para cá minha vida mudou. E muito.
Mergulhei em universo para estudar uma questão que não conhecia, mas eu sofria todos os dias, e ainda sofro: o racismo. E a partir daí expandi meus estudos para toda a vertente étnico-racial que permeia a condição do Negro no Brasil.
Entender que o racismo é estrutural foi algo que chocou, pois saber que essa opressão é alimentada pela nossa sociedade foi frustrante, pois como combater? Como acabar de vez com isso? Então fui na História e comecei a vasculhar tudo sobre movimento negro, luta contra a escravidão e fui compreendendo os enlaces históricos que impactam a vida de pessoas negras até hoje.
Que a partir do processo de escravidão instaurado no mundo, o racismo se enraizou de vez, as diferenças entre pessoas passaram a ser por conta da cor da pele. O negro africano que foi escravizado sofreu o pior crime do mundo: ele teve sua cultura e sua História apagada através do tempo, e ainda estava em uma condição sub-humana, sofreu com violências brutais.
Mas mesmo assim, estudando a História, principalmente a História dos negros no Brasil, percebi algo que me tocou: os africanos negros escravizados nunca aceitaram a condição que lhes estava imposta. Eles sempre lutaram por sua liberdade enquanto humano. Houve tantas revoltas, negros fugindo de condições de escravidão e criando mecanismos para combater com aquele sistema que havia ganhado o mundo.
Nesta luta muito sangue jorrou, muitos apanharam, foram chicoteados e vários africanos escravizados morreram…os anos foram passando, e o movimento contra a escravidão ganhava força, negros começaram a se organizar, e uma das formas mais conhecidas delas foi o quilombo: lugar que foi criado como refúgio para que os negros fossem após fugirem das fazendas que eram escravizados.
E nesses quilombos eles viviam livres, se sustentando, plantando, colhendo, pescando e também era espaço para que eles se conhecessem, já que vários africanos negros escravizados eram de localidades diferentes do continente africano. Os quilombos eram lugares de resistência negra. E enfim, em 1888 é abolida a escravidão no Brasil (vale lembrar que foi o último país a abolir).
E fui então percebendo que através do tempo a luta do negro foi só ganhando força ao longo do tempo, porque a abolição da escravatura não garantiu aos negros uma condição social no Brasil, eles foram postos de lado: sem família, sem casa, sem comida, sem ter como viver em um lugar que não de origem deles – neste momento no Brasil, o governo deu inicio ao processo de branqueamento da população, e isso fez com que a imigração de italianos, alemães e outros povos europeus viessem para o Brasil. O branqueamento do Brasil tinha uma meta de ser alcançada no prazo de 100 anos.
Pois bem, estamos em 2017, há 129 anos da abolição da escravidão e ainda estamos lutando contra o racismo, somos no Brasil aproximadamente 54% da população brasileira.
Tivemos avanços? Sim, mas o racismo está enraizado em nossa sociedade de tal forma que é só olhar as estatísticas que constatamos que negros são os que mais morrem de violência policial no Brasil; são os que estão nas periferias em situação precária; na educação os negros são os mais analfabetos; são os que estão mais desempregados; os que são perseguidos por seguranças em lojas, supermercados; são os que a polícia vai sempre verificar se não são bandidos; as mulheres negras são as que mais morrem no Brasil. Apesar de todos os avanços, a condição negra no Brasil ainda é complexa.
E isso se dá pelo fato do governo brasileiro alimentar o racismo.
Em Marília/SP, a luta pelo movimento negro vem crescendo, vem em passos de formiga, mas está caminhando. Falta muito, pois é preciso que a própria população negra da cidade crie consciência de que é preciso enfrentar politicamente esse sistema, é preciso se organizar, cada um em sua vertente, cada um em seu espaço, para que o combate ao racismo seja de fato eficaz, para que possamos honrar com nossos antepassados que morreram para nossa liberdade, e que nós possamos afrontar juntos esse sistema que humilha, que subjulga pessoas negras.
Foram vários eventos durante novembro de 2017 sobre a questão da identidade negra, da História dos Negros e de combate ao racismo e que isso possa servir de ânimo para continuar no enfrentamento.
Como diria Elza Soares, em A CARNE :
Mas mesmo assim
Ainda guardo o direito
De algum antepassado da cor
Brigar sutilmente por respeito
Brigar bravamente por respeito
Brigar por justiça e por respeito
De algum antepassado da cor
Brigar, brigar, brigar
A carne mais barata do mercado é a carne negra…