O fóssil de um crânio de pássaro que está em Museu de Paleontologia de Marília mostra sinais de elo entre aves atuais e as primeiras espécies do planeta.
E virou destaque em um estudo na última edição da famosa revista Nature, resultado de uma colaboração plurianual e internacional. Em virtude disso, envolve o Museu de Marília (MPM), o Museu Argentino de Ciências Naturais e o Museu de História Natural do Condado de Los Angeles.
A descoberta do crânio preservado em 3D surpreendeu pesquisadores e permite reconstruir o seu cérebro, ouvido interno e outras estruturas associadas. Por isso é tão especial.
O detalhe dessa anatomia preenche uma lacuna que existe entre a ave mais antiga conhecida do Jurássico, o Archaeopteryx e as aves modernas. A estrutura cerebral é quase exatamente intermediária.
Anos de pesquisas
O crânio, com aproximadamente 80 milhões de anos, é mais uma descoberta do paleontólogo William Nava, coordenador do museu na cidade. , a publicação leva o nome de Marília, do Museu e do próprio Nava para todo mundo científico.
Com efeito, estava bem preservado na rocha da Formação Adamantina, Bacia Bauru, fornece informações relevantes para entender a origem das aves modernas.
Foi desenterrado da pedreira do William (William’s Quarry), em Presidente Prudente, no Ponto 1 do Sítio Paleontológico “José Martin Suárez– o Pepe”.
Nava faz pesquisas no local desde 2004. Encontrou o fóssil em 2015 em rochas com parte do esqueleto. Mas só em agosto de 2018 a limpeza revelou o crânio.
Foi uma grande surpresa, me deparar com ossinhos de morfologia diferente, formando um crânio. Continha, inclusive, o bico preservado, as órbitas e outras estruturas ósseas, preservado em 3D
William Nava, paleontólogo em Marília
O fóssil recebeu o nome de Navaornis hestiae, uma homenagem ao paleontólogo, que atua na área há 31 anos. O trabalho contribui significativamente para o conhecimento da paleontologia tanto na região de Marília quanto em outras áreas do oeste paulista.
Fóssil único
“Este fóssil é verdadeiramente único e seu crânio nos permite apreciar plenamente a anatomia desta ave primitiva” afirmou o paleontólogo Agustin Martinelli.
Ele é pesquisador do Museu Argentino de Ciências Naturales “Bernardino Rivadavia”. É também um dos autores do artigo da Nature e grande colaborador de Nava.
As aves são o único grupo de dinossauros que sobreviveu à extinção em massa que marcou o fim da Era Mesozóica. Também conhecida como a “Era dos Dinossauros”, ocorreu há 65 milhões de anos.
Durante o Cenozóico, as aves diversificaram-se enormemente e tornaram-se abundantes em todos os cantos do nosso planeta.
Crânio de ave mostra elo na evolução
Mas as aves mais “primitivas” possuíam características que não são mais vistas nas aves modernas. São situações como cérebros menos desenvolvidos, dedos com garras, cauda longa.
Ele destaca, ainda, que crânios fósseis são muito raros nas rochas sedimentares de idade Cretácea do Brasil e, portanto, esse achado foi especial.
A geometria do crânio de Navaornis, para ilustrar a ideia, se assemelha à das aves atuais, mas com uma morfologia cerebral intermediária. Este mosaico de características em Navaornis com características primitivas e derivadas.
Algumas que se assemelham às aves modernas, mostram o quão complexa tem sido a evolução deste grupo de aves enantiornitas, adquirindo convergentemente características de aves modernas, que não sobreviveram à extinção do final da Era Mesozóica.