Marília

HC responde Fantástico: não usou informações sobre radioterapia

HC responde Fantástico: não usou informações sobre radioterapia

O Complexo Famema divulgou agora à noite uma comunicado oficial em que responde a reportagem do Fantástico, da rede Globo, que incluiu o Hospital das Clínicas de Marília entre três instituições acusadas com problemas por uso de pastilhas vencidas de cobalto em tratamentos de radioterapia.

Segundo a nota, todos os esclarecimentos estavam em informe enviado ao Fantástico, que a rede Globo teria ignorado. Confira as informações da Famema sobre o caso:

“O Fantástico da Rede Globo de Televisão exibiu reportagem na edição deste domingo, 03 de abril, sobre problemas no atendimento a pacientes com câncer que dependem de tratamento com radioterapia. O Complexo Assistencial Famema  foi incluído na matéria.

A equipe do Fantástico entrou em contato com a Superintendência da Autarquia HC Famema durante o período de produção da reportagem, entretanto, as informações fornecidas à produção do Fantástico pelo Complexo Famema não foram utilizadas na íntegra, dando parcialidade ao contexto apresentado pela instituição.

O Superintendente da Autarquia HC Famema, Dr. Gustavo Viani Arruda, é médico com especialização em radioterapia e assistente de ensino da disciplina de Oncologia e Radioterapia da Faculdade de Medicina de Marília.  Após a exibição da matéria pelo Fantástico, A Superintendência da Autarquia HC Famema destaca mais informações que foram fornecidas à produção do programa da Rede Globo e que não foram apresentadas. 

Diante do posicionamento parcial das informações veiculadas pelo Fantástico, o Superintendente da Autarquia HC Famema, Dr. Gustavo Viani Arruda, divulga a nota de esclarecimento em resposta ao programa da Rede Globo.

Resposta a matéria do Fantástico: o outro lado da história.

Diante a matéria que foi ao ar ontem 3/4/2016, matéria intitulada “descaso na saúde com o uso de aparelhos de radioterapia com componentes vencidos” que envolveram o nome da instituição, resolvemos mostrar a nossa versão sobre os fatos. Pois, consideramos a edição da matéria parcial e tendenciosa o que pode estar levando a muitos telespectadores a tirarem conclusões equivocadas, ou ficarem com dúvidas de coisas que ficaram no ar e não foram abordadas pela matéria do programa.

Para iniciarmos nossa conversa é preciso dizer que hoje a radioterapia da Faculdade de Medicina de Marília possui um acelerador linear e um aparelho de cobaltoterapia, ambos dentro das especificações técnicas dos órgãos regulamentadores.

Dito isso, alguém pode estar se perguntando; então porque o nome da instituição foi vinculado ao dito descaso?
O problema levantado pela matéria vem de 2009, ano que houve a reposição, ou seja, a troca da pastilha de cobalto que emite a radiação.

Mas o que aconteceu?
Em 2006 a ANVISA, lançou uma norma chamada RDC 20 (anexo-I), com o intuito de aumentar a qualidade dos serviços de radioterapia propôs um parâmetro de controle para forçar as trocas mais rápidas da pastilha pelos serviços de radioterapia. Pois a cada 5 anos a “força” da pastilha se reduz a metade e antes da norma, alguns serviços esperavam muito tempo, às vezes 4 vidas da pastilha para efetuar a troca. Nessa norma da ANVISA ficou estipulado que os serviços que estavam abaixo do ponto de corte (50cGy/min) teriam 2 anos para fazerem – na.

Diante da nova norma a instituição procurou trocar a pastilha?
Sim. Antes da publicação da norma a instituição vinha tentando fazer a importação da fonte, entre 17/08/2004-30/5/2006, tentativas fracassadas por falta de fabricante do cobalto (transferência CIS bio internacional para Genaton internacional), foram feitas, mas como a nova empresa não conseguiu sua regularização para o transporte internacional, resultou no fracasso da importação da pastilha.

Com o fracasso de importação de nova fonte, o que a intuição fez após a publicação da norma da ANVISA?

No momento da publicação da norma RDC 20 de 2 de fevereiro de 2006, nossa fonte estava abaixo da norma, a faixa era 50 e nós tínhamos 47,6 cGy/min, nesta faixa a norma permitia e dava dois anos para formular uma adequação. A instituição comprou um acelerador linear em pregão presencial realizado dia 6/7/2007, e conseguiu a importação de nova fonte de cobalto em 4/6/2008.

O que aconteceu entre a compra e instalação da nova fonte?
A fonte foi comprada em 2008 e instalada em 2010. Na matéria a repórter não dá destaque a burocracia, fato fundamental no atraso do aparelho em nossa instituição. Assim, apenas para os leitores terem uma ideia, demorou um ano, com a pastilha já quitada, para produção de um documento que se chama declaração de importação pelo órgão federal competente, para a fonte poder entrar no país. E ao redor de 4 meses com a fonte já em solo Maríliense até sua instalação no aparelho. Pois o serviço era feito por técnicos americanos que não conseguiam visto de trabalho no Brasil.

Os órgãos regulamentadores sabiam que a pastilha estava fora das especificações? 

Sim. Tanto a vigilância sanitária, quanto o ministério público federal (anexo-II) foram avisados pela instituição do que estava acontecendo. Inclusive com um despacho da procuradoria geral da república de Marilia (anexo-III), a pedido da Famema, o qual solicitou autorização dos técnicos americanos para trabalharem em solo brasileiro, para agilizarem a instalação do aparelho. Nunca trabalhamos sem informar as autoridades e a CNEN, vigilância sanitária e ministério público estava acompanhando todo o processo.

Existe algum problema em se tratar paciente em aparelho abaixo da recomendada?
Não. A questão é o tempo. Se todos os parâmetros técnicos foram mantidos, não há diferença, tanto é que possuímos estudos que demonstram isso, e as pacientes da reportagem estão bem após 8 anos de tratamento. No programa do fantástico a paciente que fala no caso de Marília disse que o aparelho encostava nela. Isto é verdade, pois para tratar mama, precisamos de um acessório chamado cone de mama (figura-1). Mas a distância da fonte é fixada a 80 cm, temos como provar isto demonstrando os cálculos da ficha da paciente que por motivos éticos não podemos revelar aqui.
 

Sobre a questão da efetividade do tratamento temos ainda o depoimento do físico que coordenou a diretoria colegiada que criou a norma RDC 20, publicado no diário oficial de 2 de março de 2010, que diz; “Um dos temas mais polêmicos foi a taxa de dose da fonte de cobalto – alguns queriam colocar 100 centigrays por minuto, como limite mínimo, outros queriam colocar 20, outros queriam colocar 50. Resolveu-se colocar 50 centigrays por minuto, baseado especialmente em experiência internacional.”

E ainda: “Essa resolução de colocar 50 centigrays por minuto não está relacionada ao fato de isso ser uma má prática. O paciente não vai morrer porque faz radioterapia com 20 centigrays por minuto. A radioterapia não mata o paciente porque é feita com 20 centigrays por minuto. O entendimento é que a radioterapia feita com uma taxa de dose mais alta, por abreviar a sessão diária de tratamento, traz um benefício para o paciente que a radioterapia que demora 20 ou 25 ou 35 minutos ou 45 minutos”.

E as queimaduras aumentavam?
A matéria e a repórter induzem o telespectador a achar que a taxa do aparelho produz mais queimadura. Repito, que se o tratamento for feito da mesma forma, digo a dose dada, o único fator que aumenta a chance de queimaduras era aproximando a fonte. Em nosso serviço não fazíamos isso, para se ter uma ideia um tratamento que demorava em 2006 4 minutos em 2009 passou a demorar 6 minutos por paciente.

A atitude de se reduzir a distância da fonte, cabe em casos desesperadores, quando a fonte está com atividade muito, muito baixa, o que não era nosso caso. As ditas queimaduras produzidas pela radiação ocorrem até hoje e dependem de diversos fatores. Fatores estes relacionados ao tratamento, a técnica e do próprio paciente.

O que estou afirmando é que se a paciente for tratada de maneira correta em um cobalto ela pode não desenvolver efeito colateral, e a mesma paciente caso seja tratada num acelerador isso pode vir a acontecer. Ou seja, é multifatorial, não dá para afirmar que as queimaduras eram única e exclusivamente devido a pastilha estar abaixo ou acima da norma.

O que esperamos com este documento?
Esperamos clarear a situação, pois a reportagem de modo irresponsável e parcial colocou em cheque o trabalho de anos de uma equipe que sempre buscou o melhor para o paciente de Marília e região, sendo referência nacional em pesquisa e condutas na radioterapia tanto no Brasil, quanto no exterior. Consideramos de alto risco reportagens feitas pelo telefone não se baseando em documentos legais, que muitas vezes omitem boa parte dos fatos.”