Márcia Tereza Carvalho de Souza Carrilho Martinez, ou só Márcia, faria 59 anos na próxima sexta. Seria dia de sorrisos marcantes, como os que ela mantinha mesmo nos últimos dias de internação no HBU em Marília. Não deu tempo.
A educadora que ensinou e inspirou alunos em cidades de São Paulo e Paraná, a coordenadora pedagógica que atuou em meio a uma rebelião na Febem de Marília, mãe, avó, prima, madrinha e amiga faleceu nesta terça-feira em tratamento para complicado quadro de Mielofibrose com leucemia mieloide aguda que a colocou como centro de uma mobilização por doação de sangue.
Ser lembrada por isso é tão pouco perto do que a Márcia fez. Cursou Educação Física na Unimar em Marília e com diploma e o marido, o também professor Wagner Carrilho Martinez, mudou para o Paraná.
Longe da família criaram nova rede de amigos e uma apaixonada história de formação de equipes, campeonatos estudantis e desafios. No Paraná nasceu o único filho do casal, Wagner Júnior. Voltaram todos para Marília com novos projetos, que foram de aperfeiçoamento na formação profissional a desafios como abrir uma padaria na zona oeste da cidade.
A discussão sobre o nome terminou quando Márcia cravou a frase que era mais uma marca de seu estilo que da empresa: Pão e Pronto!
Foram padrinhos pra mim e para Helô, minha sobrinha, a filha da Patrícia que é mais uma parente do Wagner que a Márcia adotou como família. E as três se adoravam.
Em 2022 Márcia começou a trabalhar na unidade da Febem na cidade e estava lá quando uma rebelião ganhou grandes proporções. “Você não tem ideia do que é aquilo”, ela me diria minutos depois de sair da unidade, eu no plantão do jornal esperando notícias.
Em 2005 foi o suporte para Wagner, o marido, no enfrentamento a um agressivo caso de câncer. Wagner faleceu em agosto daquele ano, no único velório que eu me lembro de não conseguir estar. Abracei o Júnior e a Márcia na casa em que eles viviam em uma travessa da rua Bassan.
Em 2006 deixa Febem e vai para a rede estadual de ensino. Atuou em escolas da região, muda para Gália, cidade de sua família e base para sua retomada. Júnior, o filho, casou e deu à família Melissa, a Mel, neta que mudou a vida da educadora.
Em sua reconstrução, Márcia encontrou José Eduardo Furquim, o Du, que foi companhia certa. Esteve com ela em diferentes momentos mas em toda luta do tratamento.
Du estava no hospital na última vez em que vi a Márcia. Dei sorte. Encontrei a prima em uma noite animada e matei a saudade do sorriso e algumas histórias – mais ou menos felizes -, que embalaram a esperança de recuperação.
Mas ela sabia da gravidade do quadro. E a gente sabia que ela estava sofrendo. Márcia parar de sofrer é um grande alento, que agora é base para o Du, o Júnior, a Helô, a Patrícia e todos os amigos superarem.
A professora Márcia Tereza Carvalho de Souza Carrilho Martinez, minha prima Márcia, vai ser velada na noite desta terça e início da manhã da quarta em Gália, onde será sepultada às 9h.