É discurso furado culpar o cidadão e a sujeira nas residências pela dengue. Os serviços públicos de coleta e destinação dos entulhos são pífios, não há opções, não há descentralização. Grandes porções de entulhos só conseguem ser destinadas quando passam as operações de limpeza.
A existência de qualquer serviço permanente de suporte seria uma solução diferenciada, nunca tentada e utópica em uma cidade que capenga para coletar lixo doméstico.
Dito que os serviços são ruins e não se pode descartar a boa dose de responsabilidade da gestão pública sobre os entulhos, é preciso também parar de tratar o cidadão como um bebê indefeso. O cidadão tem obrigações com sua família, com seus vizinhos e com a civilidade.
Assim como buracos nas ruas, é fácil encontrar em todos os bairros os exemplos de moradores que não estão nem aí para os riscos, a limpeza, a organização urbana. E ficam outros tantos vizinhos evitando denunciar, reclamar ou chamar fiscalização para evitar represálias ou desentendimento.
A prefeitura finge que a limpeza é legal, o cidadão finge que é problema só dele o lixo no quintal ou terreno e o vizinho finge que somos todos amigos, está tudo bem. Se você ajuda a encher minha casa de mosquitos com risco da dengue não está tudo bem. O mesmo se eu permitir que isso aconteça com a sua casa.
Quem joga restos de piscina plástica na calçada, quem deixa lonas ou piscinas vazias no quintal, garrafas, pneus e simplesmente rejeita visita dos fiscais e agentes por puro conforto de não sair do sofá está cometendo uma agressão contra a coletividade.
Sujeira, danos à urbanidade, perda de qualidade de vida são alguns problemas coletivos provocados por uns poucos em situações nas quais a dengue é o ponto mais grave e visível. Independente do que surja de informações a partir do caso da professora morta em Marília, a dengue pode matar. Não adotar medidas de proteção é uma violência contra toda a cidade.
Mais uma vez: não se excluem as responsabilidades da prefeitura em criar os serviços, a destinação de entulhos, a fiscalização e os cuidados com todos os espaços públicos. Mas não dá para sentar e esperar a faxina como se fosse apenas levantar a perna para alguém varrer o tapete abaixo dos pés.