Marília

O desabafo de Daniel e o que ele não falou

O desabafo de Daniel e o que ele não falou

O prefeito Daniel Alonso foi às redes sociais neste final de semana para pedir “um pouco da atenção” sobre ataques que vem sofrendo “simplesmente por desatar os nós que há anos não deixam nossa cidade sair do lugar” (veja íntegra do texto abaixo).

Compartilho a opinião de que Daniel sofre ataques baixos e sofre boicote de quem perdeu poder, perdeu cargos, perdeu contas. Mas isso era mais que esperado, assim como era esperado que Daniel mudasse o jeito de fazer política e de fazer gestão para que esse tipo de conduta não se repita e não seja mais aceita.

Daniel joga fora chances de mudança e acumula situações da mais velha ladainha. O texto do final de semana revela várias delas, a começar pelo “simplesmente por desatar os nós”. Daniel sofre ataque baixos de adversários mas sofre também ataques de cidadãos, de empresários sérios, de políticos amigos que se consideram traídos. E não só por “desatar nós”, mas por não cumprir compromissos, por erros de gestão, por problemas na cidade, por críticas a serviços. Não é tão simples como ele faz parecer.

A atual gestão é muito melhor que os adversários em questões importantes: não tem histórico de agressões pessoais – às vezes físicas-, nível de ofensas, enriquecimento suspeito, mentiras de campanha e de gestão, truculência ou falta de transparência. Mas também repete condutas erradas, não só no discurso. E vale citar algumas que podem e precisam mudar.

– Servidores
A relação com a categoria é ruim, os contatos são ruins, a resposta a anseios é ruim. Só para lembrar duas promessas: plano de carreira em 90 dias e reposição da inflação nos salários. Nenhuma saiu em 2017 e não há perspectiva de que saiam em 2018. As informações aparecem picadas, em comentários aqui e ali, nada oficial, nenhuma nova rotina de relacionamento.

Pior. No mesmo final de semana em que faz seu apelo, processa uma servidora que fez ataques em redes sociais. A justificativa: ela usou redes sociais em serviço.  É essa a mudança?

Servidores usam as redes o dia todo. Alguns falam bem da administração. Eles serão punidos? Secretários usam redes sociais, assessores usam, o serviço precisa delas,  até o acompanhamento dos ataques covardes envolve uso de redes sociais.

– A relação com o cidadão
Daniel precisa falar com a comunidade. Mas suas grandes ideias no setor foram ter o próprio canal de TV e controlar duas rádios tradicionais. Quer conduta mais antiga que essa? Onde ele fica diferente nisso: diz  que fez tudo às claras. Bem, é mais honesto, mas não é uma conduta melhor.

Daniel não criou canais de relação direta com o cidadão, não aproximou bairros, não tem medidas permanentes de incentivo à participação popular, não criou instâncias ou serviços para o morador ser ouvido e se manifestar.

E como a relação é ruim, Daniel e sua gestão gastam tempo e energia respondendo críticas por situações que poderiam ter sido evitadas – criticas de escolas e estudantes por medidas comuns de orientação de mobilidade no Enem foram um caso. Daniel não fala com a sociedade e os dois lados pagam caro por isso.

– Eu acerto, eles erram
Poucos dias antes de seu desabafo, Daniel foi fazer sorteio de apartamentos que deveriam estar prontos há anos. Não consta que ele seja responsável por um prego na obra. Mas é o prefeito e ponto. Neste caso como em outros – obras na saúde, em rodovias, entidades – Daniel assume o bônus de ser o gestor.

Mas Daniel tomou a iniciativa que provocou a ordem do STF para cortar vale alimentação para inativos, provocou as medidas para mudança do plano de saúde do servidor, manteve a indecente taxa dos bombeiros e a mais indecente ainda contribuição de luz, mas nas situações não tem culpa, foi sempre obrigado a fazer e no texto choroso do sábado diz que faz “por ser honesto”. O jeito mais antigo de fazer política. 

Sem falar nas mais velhas reações, como chamar de traidor um vereador aliado que critica demora em adotar medidas de transparência; a bomba no IPTU em silêncio absoluto; o orçamento sem debate ou envolvimento com cidadão; os discursos mal preparados ou improvisos grotescos, as piadas com temas sérios e desgastantes; velhas práticas para fazer média em solenidades; medidas de contenção de gastos com exceções decididas pelo secretário da administração sem critérios claros….Há longa lista de condutas no mais antigo estilo político da cidade.

A eleição de Daniel foi fruto de uma união de esforços, que envolveu desde a viabilização da candidatura para evitar um golpe no PSDB até os acordos que criaram o grupo político em torno dele. Esta união não aparece nas decisões, não aparece na gestão, não aparece nas realizações. Pelo contrário. A cada vez aparece mais um estilo personalista e até o vice, Tato, aponta falta de contatos da gestão. Meia dúzia de iluminados, para usar termo citado na Câmara, parece decidir rumos da gestão com polegar para cima ou para baixo.

A lista rende e fazer a relação toda não é a ideia. O importante é não cair no discurso fácil de “somos a luz o resto é trevas” porque a sociedade não é simples assim. Daniel e seus bons secretários podem mudar a cidade mas isso é coletivo, como devem ser os projetos e as discussões, e envolve aceitar que vai haver posições contrárias e nem todas são mal intencionadas.

O cidadão precisa mudar sua relação com a política e pode fazer isso tendo mais espaço – e com ele mais responsabilidade – nas decisões. Mas para isso não adianta fazer uma vez por ano uma audiência no centro da cidade. A aproximação tem que ser maior, tem que ser permanente e tem que envolver capacitação. 

Como o próprio prefeito diz, o trabalho falará por ele. Frase perfeita para o dia 1º de janeiro, quando ele subiu a escada. Hoje são 11 meses de gestão com situações falando a favor mas também muitas falando contra.

Assim como os desabafos, Daniel faria bem em mostrar correção dos erros.

Veja abaixo a íntegra do texto divulgado por Daniel.

Olá amigos, peço um pouco da sua atenção. 

É sempre uma grande satisfação ter a oportunidade de falar com vocês. Hoje o assunto são os inúmeros ataques que venho sofrendo, simplesmente por ousar desatar os nós que há anos não deixam nossa cidade sair do lugar. Observando o nível das acusações e o tempo que desperdiçam atirando pedras, fico muito confuso. Será que nunca nos livraremos desse pesadelo? Ninguém poderá administrar essa cidade por que ela já está condenada a ficar sempre nas mesmas mãos? Hoje quero reforçar mais uma vez que estou do lado do mariliense, acordo todos os dias pensando em livrar essa cidade do caos em que se encontra e mais, não vou desistir. Ao final do meu mandato, tudo isso estará registrado, felizmente, aí sim estarei pronto para o julgamento de todos. 

Amigos, não tirei cesta básica dos aposentados, não estou aumentando o valor do plano de saúde, me digam, que gestor faria isso? Qualquer pessoa com boa vontade de analisar os fatos, sabe que estamos cumprindo a lei, buscando atender os apontamentos do Ministério Público e Tribunal de contas. Sabem por quê? Por que somos honestos, combatemos a corrupção e as atitudes ilegais. E não é isso que todos desejamos? Ou falamos uma coisa na teoria e na prática, queremos que fique como está porque é mais cômodo? Amigos, essa é a chance de eliminar de vez a sujeira de Marília e vamos nos dar ao luxo de perder essa oportunidade? Abram os olhos, vamos nos libertar e dizer Não para quem já abusou demais da generosidade do povo de Marília. Chegamos até aqui, nada pode nos deter, estou com vocês para o que der e vier. Olhando pra frente! Nem para trás e nem para os lados. Olhando para frente porque é lá que mora nossa liberdade! Obrigado e vamos seguir em frente! O trabalho falará por nós!“