Marília

O marketing político e o ópio de um povo

O brasileiro condenado à morte, Marco Archer,
O brasileiro condenado à morte, Marco Archer,

É revoltante saber que muitos brasileiros gostariam de ter a Indonésia como exemplo no combate ao tráfico de drogas. Ao ler os comentários feitos nas redes sociais, nas páginas de leitores dos jornais e mesmo em algumas colunas dos jornalões fico pasmo como alguns são a favor da pena de morte imposta ao traficante brasileiro naquele país. Uma amiga do Facebook chegou ao absurdo de dizer que deveríamos ter a pena de morte para matar traficantes e políticos.

Sem saber o que está dizendo, ela conclui que as leis aqui deveriam ser cumpridas a ferro e fogo como seriam na Indonoésia. Ela, como tantas outras endinheiradas do nosso país, reclama por melhor educação, mas demonstra uma falta de cultura e erudição que deixariam os indonésios miseráveis vermelhos de vergonha.

Esse arquipélago que fica no sudeste asiático tem 250 milhões de habitantes e apenas 40 milhões de pessoas estão empregadas. Destas, 16 milhões trabalham em trabalho semi-escravo. Um exemplo são as crianças de 12 e 13 anos que estavam sendo exploradas por uma grande marca de tênis, denunciada em 2012. Por outro lado, milhares de indonesianos  se vêem obrigados a deixar o país para sobreviver.

Conheci alguns desses trabalhadores num cruzeiro que fiz pela América do Sul num transatlântico de bandeira estrangeira. Davam duro em 12 horas por dia para receber um salário pífio e alimentação de péssima qualidade.

O brasileiro condenado à morte, Marco Archer, entrou várias vezes no país para traficar drogas. Não era bem uma mula, diria que era uma carruagem pelo dinheiro que ganhava. Em 2005, Archer deu uma entrevista na cadeia mostrando todas as mordomias que tinha na cela, incluindo comida vinda de bons restaurantes e quando se sentia abstêmico, também era brindado com um cardápio de drogas.

Ou seja, o país que condena à morte um traficante estrangeiro, não consegue impedir que a droga corra solta dentro de seus presídios. Lá, como cá, a lei tem seus caminhos tortuosos. E o governo que não aceitou o pedido de clemência feito pelo Brasil, Holanda e outros países, pede clemência para uma mulher condenada à morte por homicídio na Arábia Saudita.

O que podemos concluir é que os condenados ao corredor da morte na Indonésia, foram vítimas de um marketing político. O presidente eleito Joko Widodo havia prometido na campanha intensificar o combate ao tráfico. Existe medida mais impactante que matar meia dúzia de mulas? Pelo que vi na internet, a propaganda do governo indonésio foi eficiente também no Brasil.