Prepare seu coração, cuide da memória, organize-se contra a propaganda oficial enganosa.
Lembre Elisabete. O poder público que ela procurou, não atendeu. O que a publicidade oficial vai dizer ao filho de Elisabete? Aos filhos das outras vítimas?
Em março, mês do Dia Internacional da Mulher, vem um bombardeio de publicidade e paga com seu dinheiro para defender inclusão, não à violência, resista, reaja. Vai ter aquela cor legal para lembrar o mês.
Elisabete reagiu de forma legal, várias vezes, procurou a polícia – a última vez no dia 15 -. Morreu sem ajuda. Não foi a primeira, não será a última. A propaganda oficial promete um suporte que não entrega.
Quantas vítimas vão deixar de denunciar depois que a lei e os serviços públicos de segurança falharam com Elisabete? Quantas vão procurar a mesma delegacia, sair com as mesmas orientações para viver os mesmos medos?
Em outubro vem um bombardeio de mensagens pela prevenção, se toque, câncer de mama mata. Outubro Rosa.
E as filas dos exames vão continuar quilométricas, os postos de saúde vão continuar com falta de médicos, a saúde só vai dar os remédios se a Justiça mandar multar ou prender o responsável.
Os anúncios formais de que a dengue começa na sua casa vão se multiplicar, mas o alerta ignorado sobre riscos que corre desde outubro, os espaços coletivos sujos, o mato em, áreas oficiais, a limpeza em “operações engana quem vier” vão se repetir.
Você será bombardeado a todo tempo com estatísticas e dados sobre tudo, balanços e projetos de novas políticas. Novidade mesmo só quando você começar a reagir.
A liberação de agrotóxicos inundando produção agrícola vai continuar.
Você vai ver semanas de direitos humanos, de atenção às crianças, de direitos do consumidor.
E os abusos vão seguir se multiplicando, a impunidade das grandes redes que fraudam empréstimos, que entopem telefones com marketing abusivo, vai continuar.
A publicidade oficial só consegue ser menos cínica que os donos das canetas responsáveis por elas.
Esse descaso todo tem nome e endereço em cada prédio de governo, em cada plenário de Legislativo, em diretoria de órgão público omisso, em cada cadeira de gente que bate o carimbo, registra as estatísticas e vai dormir em paz, algumas autoridades que muita gente por aí passa o ano chamando de doutor.
Todo mês vai aparecer com uma cor na sua rede social, na TV, jornais, internet.
A única novidade esperada de verdade todo ano é que a população se organize em associações, coletivos, grupos de interesse e proteste, peça mudanças, denuncie nomes, veja em cada ponto falho do serviço os responsáveis pelo descaso.
Vai muito além de saber de cor as piadas e ataques contra o presidente, o ex-presidente, o governador.
Envolve saber que o omisso mora na cidade, às vezes no bairro, às vezes na rua ao lado.
A campanha ideal do ano é Janeiro e Dezembro Escuros, até a população acordar.