Vivemos tempos estranhos. “Fakenews” poderia ser a palavra que define o nosso tempo. Sobram vídeos amadores, falta compromisso com a verdade. Numa guerra virtual repleta de desinformação, acusações e frases de efeito, infelizmente, não sobra espaço para o interesse público, a moderação, a razoabilidade e o bom senso.
O caso mais recente desse bate-boca virtual é a tal Obra do Esgoto, que o mariliense aguarda por décadas e até hoje apenas assistiu a milhões de reais caminharem para os ralos da ineficiência pública. Os contribuintes são os únicos lesados por gestores incompetentes ou pela corrupção da administração pública. Não existe almoço grátis, a conta é do cidadão.
Enfim, a licitação da obra foi suspensa pelo Tribunal de Contas da União (TCU) e assistimos, pasmos, mais um capítulo composto por uma troca assustadora de vídeos pelas redes sociais. As maiores autoridades públicas e políticas da cidade trocam gentilezas sem cerimônia. É surreal.
As pessoas podem criar versões, distorcer a verdade, torturar números e, simplesmente, mentir. Mas jamais mudam os fatos. Hoje, recuperar somente os fatos equivale a trazer um pouco de oxigênio – verdade – para a arena política municipal. Vamos aos fatos.
O deputado estadual Abelardo Camarinha entrou com uma representação junto ao Tribunal de Contas da União pedindo a suspensão da licitação da obra do esgoto. O TCU acolheu a medida e determinou a suspensão da licitação, e não dá obra, por entender que o edital tem algumas irregularidades que foram apontadas no Relatório do Auditor.
Após a decisão do TCU, o prefeito Daniel Alonso vez um vídeo indignado com o deputado e o seu “bando”, acusando-o de ter enterrado milhões de reais na obra, de trabalhar contra Marília, de ter suspendido a obra do esgoto e de viver nas Trevas. O deputado rebateu o vídeo do prefeito.
Por ora, esses são os fatos.
O que move Abelardo? A meu ver, não é o interesse do povo de Marília. Não é a preocupação com uma gestão pública eficiente. Não é a preocupação com um excelente edital de licitação. Nada disso. É única e exclusivamente a sobrevivência política do seu grupo, que governou a cidade por mais de 30 anos e agora foi derrotado nas últimas eleições. Ele tem em mente apenas as próximas eleições, jamais os anseios do povo de Marília.
No entanto, e independente disso, é preciso colocar alguns “pingos nos Is”. Primeiro, Abelardo não suspendeu a obra do esgoto. Pelo bem de Marília ele não tem esse poder. Nenhum político tem. O TCU, aí sim, provocado por ele, suspendeu o processo licitatório que está em andamento por encontrar irregularidades no edital.
Um segundo ponto é que o edital apresenta falhas na sua elaboração, caso contrário os auditores não teriam tomado tal medida. É uma oportunidade para a administração municipal rever os pontos irregulares e na sequência dar continuidade ao processo licitatório de forma mais transparente.
É inacreditável, por fim, como Marília é refém de guerras políticas, pautadas na desinformação, factóides e acusações para todos os gostos. Assistimos, incrédulos, vídeos amadores feitos por nossas principais autoridades políticas da cidade que em nada beneficiam o povo de Marília.
A minha percepção, que pode estar errada, é a de que as pessoas desejam somente um 2018 onde os políticos tenham mais maturidade, responsabilidade e serenidade para encontrar soluções para os inúmeros problemas da cidade. As pessoas desejam serviços públicos dignos e funcionais e querem ser poupados de briguinhas virtuais infantis. Que o espírito público se faça presente na nossa cidade.
* Escrevo esse artigo na condição de vereador de Marília e membro de uma comissão formada para acompanhar a Obra do Esgoto. Mas, principalmente, na condição que une todos nós: a de Cidadão.