Marília

Os prefeitos e a frustração da receita

Após meses de lixo acumulado na rua, de uma greve nas unidades de saúde e de parte dos servidores com 13º salário atrasado, o refrão municipal para todos os males é: houve uma frustração de receita. Não é descontrole, não é gastar o que não tem, não é gastar mal com pracinhas ou publicidade. É frustração de receitas.

Penso que cada vez que o cidadão vê a tal justificativa, fica com duas opções na vida: aceitar que houve uma frustração de receitas e tudo bem ou chegar á conclusão de que além de descontrole nas contas a cidade está sujeita a uma gestão sem nenhum respeito pelo cidadão, que mente sobre o rombo que causou e não consertou.

Imagino que um considerável número de cidadãos hoje sente-se tentado a aceitar a primeira versão. Há uma frustração de receita e o que é que se pode fazer?

Imagino até que todos estes cidadãos em dificuldades gostariam de ajudar a cidade, mas infelizmente terão que devolver os carnês do IPTU à prefeitura com a mensagem: desculpe, houve uma frustração de receita aqui em casa e não vai dar para pagar.

Imagino cada cidadão com uma parcela atrasada no carro ou no comércio passar meses devendo e tudo bem. Só falta alguém ir parar no SPC por um caso grave de frustração de receita.

Ah, mas vai acabar sobrando para o novo prefeito, que nem assumiu ainda. Bem, é uma pena, mas ele já está aí cara-a-cara com um rombo milionário todo justificado na base da frustração de receita. Se ele vai aceitar estes milhões de rombo de bom grado, não pode se dar ao luxo de brigar com um ou outro cidadão comum.

A não ser, é claro, que ele não vá aceitar assim de bom grado, que ele vá fazer uma devassa nas contas, que ele vá mostrar aos cidadãos aonde foi parar o dinheiro que deveria ter sido usado para pagar o Ipremm, a Monte Azul, a Unimed, os hospitais.

Porque com a verdade na mesa e com os números abertos, pode até haver problemas com a receita, mas não haverá frustração de servidores, eleitores e cidadãos que pagaram suas contas pra ficar com lixo na porta, com dívidas a pagar e sem os salários.