Marília

Pacientes e profissionais pagam conta de sobrecarga e subfinanciamento do HC

Pacientes e profissionais pagam conta de sobrecarga e subfinanciamento do HC

Sorte, dedicação, envolvimento e apoio das famílias podem ser algumas justificativas para que o quadro de denúncias, caos e problemas no Hospital das Clínicas de Marília e danos aos envolvidos sejam menos graves que poderiam. As denúncias quase diárias podem estar subestimadas.

Por dez dias, entre a noite do dia 23, sexta-feira, e a manhã da segunda, dia 2, visitas diárias mostram que o quadro de sobrecarga, falta de profissionais, falta de estrutura e descaso oficial criam desafios diários e uma conta paga pelos pacientes, suas famílias e os profissionais do maior complexo de saúde pública da região.

Momentos de extrema dedicação de profissionais sobrecarregados e talento de jovens médicos disputam corredores com a falta de contratações, estrutura física deficiente e casos isolados de despreparo que tornam a vida e atendimento piores.

Parte deste quadro havia sido revelada aqui no dia 24, sábado, em uma condição que para muitos usuários não foi novidade alguma. Vários leitores reagiram com essa informação.

Superficiais, em casos que qualquer pessoa andando pelos corredores pode ver, mostram que o governo do Estado, as prefeituras de todas as cidades envolvidas, todos os deputados que se apresentam como fiéis representantes da região precisam tratar com mais seriedade.

Funcionários e pacientes abordam para contar histórias, como uma mulher em tratamento para câncer que chegou cedo para exames, passou horas em jejum esperando ser chamada – caso idêntico a outro revelado por outra paciente há dez dias.



Alas que atendem com apenas dois funcionários criam profissionais sobrecarregados e cansados ou de convocações de última hora na madrugada. Restam pacientes que aguardam em situações de dor, desconforto e medo para eles e famílias.



Três formas diferentes de contratações criam diferenciais salariais e de gestão de pessoal e as queixas aparecem em todos os setores.



Serviços simples como troca e higienização de pessoas e espaços disputam atenção com hora da medicação.



Sem concurso e sem horas extras, acompanhantes repetidas vezes trabalham nos serviços do HC.



Médicos em atendimento às famílias e acompanhantes são interrompidos por novos casos e chamados e precisam escolher a quem dar a atenção devida.



Emergência lotada, portaria e até limpeza de banheiros que desafiam qualquer controle de infecções são quadros repetidos.



Falta de acessibilidade, calçadas irregulares que são trocadas por uma via de acesso para veículos com piso irregular levam a uma entrada com escada em deterioração, coberta por marquise com remendos e vazamentos.



Há uma rampa de acesso, íngreme e que é acessada pela calçada ou asfalto irregular. Visitantes e até funcionários com redução de mobilidade acabam indo à velha escada.



As tradicionais macas no corredor são figuras comuns. Equipamentos básicos como bomba de soro que são colocados com a expectativa de que podem falhar também.



Bancos doados por políticos, que por força de lei tiveram nomes parcialmente apagados, armários velhos cujas portas não fecham, falta de acomodações para acompanhantes e quartos que ganham muitos mosquitos são cenas cotidianas.


A importância social, financeira e de atendimento básico justificam denúncias constantes. Apesar dos muitos usuários conhecerem a triste situação, o governo do Estado ignora veementemente essa complexidade e é sempre bom registrar.

Não seriam necessários os dez dias para que promotores de Justiça e procuradores encontrassem as várias situações que mostram um problema tão grave quanto todas as importantes investigações e ações já em tramitação.

O HC precisa de funcionários, um quadro que vai se agravar a partir deste mês com a falta de horas extras. O HC precisa de reformas e modernização. Precisa de treinamento, precisa de uma ouvidoria visível e permanente e de respostas para as queixas se houver mesmo interesse para que ele seja o centro de saúde pública que a população de 62 cidades precisa e merece.

Vão dizer que o HC está e funciona melhor que muitos centros. Sim e os profissionais, pacientes e familiares ajudam em muitas das histórias de sucesso.

Vão dizer que os principais e mais estruturados hospitais particulares do país têm histórias de desconforto, falhas e problemas.

Mas é uma vergonha para autoridades que seja conforto ter tantos problemas que explodem na cara de qualquer leigo e pensar que isso é referência.