O engenheiro Glauber Hiroshi e o administrador de empresas e químico José Roselli Júnior, peritos da Polícia Científica de Marília, devem receber de forma silenciosa, como registro na ficha profissional, um trabalho inédito na carreira: salvaram a vida de um motociclista acidentado na cidade.
Os dois seguiam a caminho de uma ocorrência no Jardim Maracá, em trajeto que passa pelo Distrito de Padre Nóbrega. Avisados por uma moradora, encontraram um rapaz caído naa rua depois que sua moto bateu em uma caçamba de entulho, que estava regularmente. O motociclista tinha uma grave lesão na perna, com o pé direito quase separado do corpo e sangramento abundante.
Hiroshi tirou o próprio cinto, fez um torniquete para conter a hemorragia. O Samu foi avisado. Roselli ligou para a Polícia Civil e informou o caso. Passou a trabalhar no isolamento e afastamento de curiosos. O trabalho completamente fora da rotina, durou dez minutos até a chegada do socorro. O motociclista perdeu o pé, mas ouviu dos atendentes que sem o apoio do perito provavelmente teria morrido por uma forte hemorragia.
O coordenador da Polícia Científica na cidade, Rogério Rodella, já encaminhou ao comando um pedido para reconhecimento ao trabalho que salvou o motociclista. Deve virar uma homenagem na ficha profissional.
O rapaz salvo passou pelo atendimento dos técnicos mais uma vez: foi fazer um laudo sobre o resultado do acidente. “Ele agradeceu bastante. Disse que a equipe do Samu falou no atendimento: ele salvou sua vida. Fico muito feliz por isso”, conta Hiroshi.
Ele atua há três anos na área. O curso de formação na academia da Polícia Civil incluiu técnicas de primeiros socorros. Mas a perícia tradicionalmente chega aos locais após os eventos. Ele nunca usou as técnicas.
“A gente recebe treinamento na formação, mas eu nunca precisei usar. Acho que trabalho bem sob pressão, porque na hora consegui pensar rápido, tirei o cinto, apertei na perna e fiquei ali conversando com o rapaz”, diz Hiroshi.
Não se sente um herói. “Médicos e bombeiros salvam vidas todo dia, eles não aparecem no jornal”. Mas admite que o salvamento vai além do que se espera do trabalho para peritos, diferente do que acontece com bombeiros ou médicos. Roselli, que está há dez anos na perícia concorda: foi a primeira vez em que atuou com equipe para salvar uma vida.
“Vi o Hiroshi ali fazendo o procedimento, avisei a polícia, comecei a conter o pessoal que se aglomerava, muita gente querendo fazer foto e vídeo e eu pensando: estamos no meio da rua, preciso impedir outro acidente”, diz Roselli.
O trabalho da Polícia Científica tem pouca visibilidade e muita importância. Também sofre com má interpretação entre pessoas que nem reconhecem seu valor e outras que imaginam séries de TV, com investigações, muitos equipamentos, prisões épicas.
Na maioria das vezes os laudos acompanham quesitos pedidos pela Polícia Civil. “A gente põe a pessoa no local do crime ou tira. A gente esclarece condições do locais, de movimentação, de condutas. Em muitos casos uma foto da perícia pode ajudar a esclarecer”, explica Roselli.
A parte mais conhecida é dos laudos médicos e técnicos. Casos como a morte da menina Isabella Nardoni, em que a perícia revelou passo-a-passo do crime ou dos homicídios de Cristiane Arena e sua filha Karoline em Pompéia, em que laudos desmontam versão do acusado, viram provas básicas em processos.