O som da viola invadiu a zona sul da cidade na noite desta segunda-feira (17). E saiu do quartel da Polícia Militar, para surpresa de vizinhos. Em um salão ao lado do ambulatório, 15 alunos de diferentes idades, homens e mulheres, foram aprender ou aperfeiçoar uma arte: tocar viola. Eles são a primeira turma do projeto Escola Viola, uma iniciativa que une dois Rotary Clubes da cidade, vai beneficiar alunos do Cacam (Centro de Atendimento à Criança e Adolescente) e revelar talentos.
A ideia nasceu de dois parceiros violeiros autodidatas, que resolveram aprender a tocar e muitos anos depois, companheiros de Rotary, decidiram ensinar a tocar, o dentista Raul Francisco Cardoso Júnior, que é também tenente da PM, e o corretor de imóveis Gilberto Pedro Moraes.
Os dois iniciaram o atendimento de forma precária, em uma chácara na região do Country Clube, com acesso difícil para público da cidade. Nessa segunda, muitos dos alunos desta turma estiveram lá para a primeira aula formal.
Na abertura do projeto agradeceram o suporte de seus clubes, o Rotary 4 de Abril e o Rotary Marília de Dirceu, responsáveis pela compra dos instrumentos. Não fosse o apoio, mais da metade dos alunos estaria ali sem violas para tocar. Raul lembrou também o suporte da Polícia Militar, que cedeu o espaço para as aulas.
Agradeceram também as iniciatvas pessoais de profissionais que ajudaram e fizeram doações particulares ou em nome de empresas, como Fábio Serapilha, representante da operadora de seguros Porto Seguro.
João Carlos Affonso Ferreira, presidente do Rotary 4 de Abril, agradeceu a presença de todos, enalteceu a importância do projeto em fomentar cultura e atrair pessoas tão diferentes.
Hederaldo Benetti, do Rotary Marília de Dirceu, agradeceu a iniciativa de envolver crianças do Cacam no ensino. Lembrou que o Centro – gerido pelo Rotary – presta serviço único para atender crianças de lares desfeitos em casos de violência ou abandono.
Mas a noite era mesmo dos alunos e eles mostraram empolgação e afinação. Caso do aposentado Aparecido Pires, 72, que já vinha aprendendo há quatro meses. “Não aprendi antes não sei porque, sou muito apaixonado por viola”, conta o aposentado, fã de Tião carrero. “Já ouvia muito, faltava tocar.”
Para ele não é tarde. “A gente nunca para. Acho que enquanto tiver saúde e Deus der disposição a gente tem que aproveitar a vida.”
José Aparecido Martins, 77, é policial aposentado, tocou na banda da PM, tem conhecimentos de música erudita e popular. Mas foi matar a saudade da juventude: até os 20, 21 anos, formou dupla e chegou a cantar no rádio em Jaú. Fez sua primeira aula nesta noite.
“Meu gosto mesmo, meu xodó sempre foi a viola. Quando entrei na polícia abandonei, então estou voltando à minha aptidão. É minha paixão tocar viola” conta.
Com eles estava ensaiando outro aposentado, Décio Cerissa, 74, que sempre gostou de música, sempre teve intenção de aprender a tocar. Agora usa o tempo livre para realizar o sonho. “Não tenho prática de cantar, mas sempre gostei da ideia de tocar. Quero aprender as notas, as cifras e aí vo poder tocar o que eu quiser.”
E ao lado dos três ensaiava Leonardo Aprígio, 10, uma das quatro crianças do projeto. Ele começou a frequentar levado pela avó. “Nâo pedi não, ela que me trouxe.” Mas agora não quer parar. “Gostei, tá muito bom.”
O projeto faz aulas às segundas-feiras entre 19h e 21h30. O acesso é feito pela lateral do quartel da PM. As apresentações no Cacam ainda precisam ser regulamentadas, mas devem acontecer pelo menos uma vez por semana.