“(…)É a amizade desfeita
A dor do julgamento
A decepção
A novidade ao lado
A vida não para de dar sinais
Revela o espaço do outro passo
Aquilo que agora está perdido
É a chave de entrada da porta seguinte
Até a desordem que tira do eixo
É o chão do equilíbrio que logo virá
E toda angústia que sinto no peito
Fecha meus olhos para assim enxergar(…)”
Música: Novidade ao Lado
Composição e interpretação: Flaira Ferro
Que você possa abraçar o caos que te des(orienta) nesse momento, pois o caos convoca a uma nova ordem, desconhecida e necessária. Ansiamos pelas coisas bem arrumadinhas, mas nem sempre podemos contar com isso, quando as coisas se desajustam é preciso reaprender a dançar, pois sinalizam outros modos de serem movimentadas e vivenciadas.
São nestes momentos caóticos que as relações intimas podem se desequilibrar e chamam por conversas e enfrentamentos difíceis, a tendência primeira é a evitação, comportamentos como tratamento de silêncio, afastamento afetivo, projeções em outras pessoas ou situações que justifiquem o desequilíbrio são comuns e tem o principal objetivo de postergar ou até mesmo de negar a lida com o que está caótico.
O maior problema disso é que quanto mais se “evita o inevitável” maior e mais pesado o desequilíbrio se torna, nesse sentido, é preciso fazer um exercício profundo de aceitação do que está acontecendo, para que se possa olhar de frente e lidar com o que vier.
É também importante olhar para si mesmo e observar o que em si está querendo fugir. Somos simplesmente humanos e por isso somos contraditórios, sentimos inveja, orgulho, medo, temos dificuldade de admitir erros, quando precisamos de ajuda, as vezes somos egoístas, mesquinhos, entre outras coisas, isso tudo faz parte e reverbera nas relações mais intimas diretamente, são nos momentos mais desafiadores que essas dimensões aparecem de forma intensa e são essas mesmas situações que convocam a profundos aprendizados nos relacionamentos afetivos.
Quando digo afetivo é todo tipo de relacionamento, conjugal, mães/pais e filhos, familiares, amigos, etc. Toda relação intima para permanecer, ser sustentável, exigirá conversas e enfrentamentos difíceis, com o outro e consigo mesmo, pois estas nos tiram do próprio “umbigo” apresentando um universo completamente diverso, isso é maravilhoso, ao mesmo tempo, pode ser desafiador.
Para estar com o outro é preciso saber-se falho, vulnerável e impotente, é preciso reconhecer o próprio lugar para reconhecer também o lugar do outro, é um exercício cotidiano de entrega, confiança, resiliência, empatia, reconhecimento dos próprios limites e autoconhecimento. É preciso criar uma dança junto, ora dando espaço, ora se misturando, ora se observando e se escutando, ora em pausa, silêncio, ora em atrito, ora em reencontro.
Relações demandam responsabilidade e maturidade, só é possível sustentá-las quando existe disposição de enfrentar os dias difíceis, pois eles hão de chegar, provocando rearranjos, e assim como chegam, também hão de passar. Te convido a reaprender a dançar, caso o caos esteja ventando por aí.