Marília

Quem faz drama, quem faz política e a crise dos radares

Quem faz drama, quem faz política e a crise dos radares

Aproximadamente três meses depois de retomar em silêncio uma licitação revogada para instalar radares no trânsito de Marília, a administração municipal divulgou nesta quarta-feira a programação anual do que seria uma campanha de educação no trânsito.

A campanha nem arranha alguns pontos problemáticos do trânsito e também é mais uma cortina de fumaça na crise provocada pelos radares depois que a prefeitura errou a mão no lançamento da proposta, está gastando mais tempo e energia do que precisaria além de insistir em medidas no mínimo suspeitas. Faria melhor se parasse tudo para começar de novo. Como segue, perdeu outra vez a chance de direcionar o debate.

Em torno da polêmica surgiu quem faz drama, quem faz política de baixíssimo nível para atacar ou proteger a administração e quem parece fugir do foco do debate para as tangentes que o caso envolve, a favor ou contra.

Os radares são formas eficazes de punir e controlar motoristas mal educados e isso é importante. O trânsito, infelizmente, precisa deles, como os vários casos de abusos mostram. Isso é fato.

Os radares são usados para alimentar indústrias multas e podem acumular anos de uso sem soluções, como sempre foi nas marginais de São Paulo onde os números de mortes e acidentes continuaram proliferando com radares e isso também é fato.

Os radares sozinhos não educam e não encerram os problemas. Um radar na entrada da Via Expressa não vai impedir o motorista de ignorar os limites cem metros depois. E isso também é fato.

A polêmica real então passa longe de ser a favor ou contra os radares. A polêmica está na licitação revogada e reaberta sem as devidas discussões técnicas e jurídicas e uma pressa sem justificativa administrativa ou moral.

A polêmica está na terceirização e na insistência em defender esse modelo e esse pacote que veio pronto de uma administração que a atual gestão ataca tanto e que mesmo naquele tempo foi suspensa por diferentes diretores.

A polêmica está na falta de informações técnicas sobre os pontos com real necessidade dos radares.

A polêmica está na falta de estruturas de orientação, fiscalização, educação, mobilização dos motoristas fora dos pontos onde estariam os radares.

A polêmica está no fato de que a Emdurb foi reformulada, ganhou cargos e discurso político para ser uma gestora de mobilidade e antes de qualquer estudo, inovação ou interação resgata uma licitação cercada de suspeitas e se agarra a ela com unhas e dentes

A polêmica está no fato de a administração, que já derrapou na falta de debate e transparência, fazer oba-oba público com meias verdades para tentar enfiar goela abaixo do cidadão a necessidade de manter esta licitação.

A polêmica está no fato de que a instalação dos radares abriu um abismo dentro do grupo político que administra a cidade, que já não tinha maioria, e vai se tornando uma queda de braço que pode deixar uma legião de derrotados para seguir com uma licitação suspeita para uma medida mal preparada e nunca debatida.

É importante que a administração se mexa. Mas é importante que se mexa de forma criteriosa, que cumpra a promessa de ser diferente, de ser transparente, de ser eficiente.  Porque pra fazer o velho jogo político a cidade já tem bastante gente.

Preocupa que a administração de 12 meses tenha escorregado de forma tão grosseira mais uma vez na mudança, mas preocupa ainda mais a imagem de que a atual gestão se contenta em parecer e se aproximar tanto das anteriores e siga tão confortável com estas semelhanças.