Marília

Revolta deixa destruição em presídio; Defensor de Marília narra negociação

Revolta deixa destruição em presídio; Defensor de Marília narra negociação

Imagens que começaram a circular em redes sociais neste sábado mostram um rastro de prejuízo e danos deixados pela rebelião dos detentos na Penitenciária de Lucélia. As fotos mostram ainda momentos após a entrada da polícia, com os presos já no pátio sob controle.

Não foram divulgados valores ou projeções dos danos provocados pela revolta, que durou pouco mais de 20 horas e envolveu focos de incêndio, danos em áreas coletivas, muita sujeira.

No sábado pelo menos 150 presos foram transferidos para a penitenciária de Osvaldo Cruz. O presídio de Lucélia, com capacidade para 1440 condenados, tinha 1820 homens quando começou a rebelião.

Um inquérito policial foi aberto para investigar os danos ao patrimônio e pode envolver ainda uma investigação sobre a conduta de três defensores públicos que foram feitos reféns durante a revolta.

Os defensores, incluindo Fernando Rodrigo Mercês Moris, de Marília, entraram no local durante o horário de banho de sol, em que todos os presos estão fora da cela e juntos no pátio e áreas coletivas.

Outro defensor público de Marília, Bruno Bortolucci Baghim, divulgou na sexta-feira um texto sobre a negociação com os presos e uma análise em que defende os defensores.

Burno Baghim participou da negociação e acompanhou todas as etapas até o fim da revolta. Veja abaixo as imagens da distribuição e a mensagem do procurador.

Amigos, estive com os colegas Flávio Pontinha e Mateus Moro por vinte horas na Penitenciária de Lucélia-SP participando das negociações, e gostaria de transmitir um pouco do que houve. 

Em primeiro lugar, os defensores mantidos como reféns não cometeram qualquer erro ou ato de imprudência. São defensores experientes, corajosos, mas jamais irresponsáveis.

Tenta-se culpa-los pelo que houve, o que é um absurdo. Agiram como centenas de outros colegas fazem diariamente, de forma corajosa, e se ficam expostos a riscos, isso é natural e inerente à função – até porque não sei se outras carreiras enfrentam esse risco para expor as mazelas do sistema prisional, indo além de meras visitas burocráticas, cafezinhos e risos com diretores de penitenciária. O risco é inevitável, e não é nossa culpa. A diferença é que não nos acovardamos. Mas voltemos ao caso.

Logo que cheguei à penitenciária tive que enfrentar o risco de invasão. O comando pensava em enviar o choque para tomar o local, mas me opus. Fiz contatos com administração superior da Defensoria, do Governo do Estado, e felizmente foi vetada qualquer invasão.

A partir dali (fim da tarde de quinta), os negociadores da PM intensificaram seu trabalho. Pude acompanha-los até os pavilhões (com os policiais fazendo questão de zelar pela minha integridade) para acompanhar as negociações, sendo que já deixo registrado o elogio aos policiais negociadores da região de Lucélia pelo trabalho excelente, excepcional mesmo. Infelizmente não houve avanços e a noite se aprofundou.

Houve a chegada do GATE, da PM, vindo da capital, e que assumiu as negociações. Novamente, um trabalho de excelência. A essa hora os colegas da Administração Superior da DPE já haviam chegado e tomaram a frente no meu lugar por nossa Instituição.

A madrugada passou, “dormi” umas duas horas em meu carro e retornei. No início da manhã, voltamos com o GATE para o pavilhão, para acompanhar e participar das negociações. E aí, felizmente as coisas avançaram e ao longo da manhã de hoje os reféns foram gradativamente liberados.

Os presos foram extremamente respeitosos com os defensores, sem qualquer violência. As reivindicações, em geral, legítimas – embora o meio utilizado para isso tenha sido o pior possível. O sistema prisional é desumano e isso é inegável.

Felizmente, tudo correu bem. Deixo meus parabéns à Polícia Militar do Estado de São Paulo pelo brilhante trabalho dos negociadores da região de Lucélia e do GATE, bem como aos colegas que participaram de tudo, auxiliando para um desfecho favorável. 

Quanto à nossa atuação, estejam certos de que os eventos de ontem e hoje não mudam nada: seguimos na luta por um país menos desigual, contra qualquer tipo de opressão, olhando pelos esquecidos, por aqueles que são excluídos da sociedade desde o ventre materno.

Não sairemos das prisões. Se o Estado é contra o crime e a violência, que cumpra a Lei de Execução e a Constituição. Estaremos sempre de olho, por perto. Se nos acham incômodos, ótimo.