Fevereiro de 2016 promete ser um mês agitadíssimo e polêmico: primeiro por ser carnaval e segundo porque duas escolas de samba do Rio de Janeiro que irão homenagear as religiões de matriz africana.
E isso já provoca muita polêmica, pois no Brasil, apesar de ser um Estado laico (que não é governando por bases religiosas) muitas pessoas destilam seu ódio por outra religião, principalmente as de matriz africana (Candomblé, Umbanda, Catimbó, Cabula, Batuque, Culto aos Egungun, Quimbanda, Xambá e Omolocô) que carregam consigo o preconceito desde a época da escravidão, sendo consideradas cultos maléficos, são associadas à macumba e por quem não conhece são religiões demoníacas.
Mangueira e Salgueiro vão levar esse tema para a avenida. COnsiderando o emblema de “escola de samba” eles vão dar uma aula de religiões de matriz africana a fim de quebrar a intolerância religiosa e, mostrar o quão lindas são modelos de religiosidade que pregam somente o amor, e buscam espiritualizar as pessoas através da cultura africana, de onde provém sua filosofia.
Só lembrando, em 2015 houve o caso de uma menina que participava de uma cerimônia do candomblé foi apedrejada, ela tinha 11 anos, veja AQUI. Sem contar os inúmeros terreiros, inclusive os da cidade de Marília, que foram alvo de intolerância. Logo, essa abordagem na avenida é de extrema importância, pois vai contribuir e muito para a valorização, consciência e resistência da cultura negra no Brasil.
Na escola de samba Mangueira eles vão homenagear Maria Bethania com o enredo: “Maria Bethânia: A Menina dos Olhos de Oyá”. Oyá ou Iansã como é conhecida no Brasil, é uma divindade “guerreira por vocação, sabe ir à luta e defender o que é seu, a batalha do dia-a-dia é a sua felicidade. Ela sabe conquistar, seja no fervor das guerras, seja na arte do amor.
Mostra o seu amor e a sua alegria contagiante na mesma proporção que exterioriza a sua raiva, o seu ódio. Dessa forma, passou a identificar-se muito mais com todas as atividades relacionadas com o homem, que são desenvolvidas fora do lar; portanto não aprecia os afazeres domésticos, rejeitando o papel feminino tradicional. Iansã é a mulher que acorda de manhã, beija os filhos e sai em busca do sustento”.
Já no Salgueiro, o samba enredo é a “Ópera dos malandros” que são entidades serenas, mas que na sociedade carregam todo o estereótipo do malandro como a pessoa que não quer trabalhar, que não quer correr atrás de uma boa vida. Esse samba vem dar uma aula sobre todas as entidades malandras, que dentro da religião, são entidades espirituais que neutralizam as forças negativas.
Ou seja, essas escolas de samba vão mostrar o lado belo das religiões de matriz africana com a mais pura intenção de contribuir para o fim da intolerância religiosa que assombra nossa sociedade. Precisamos disso, romper com as barreiras da discriminação é o começo para um mundo melhor, axé!
Para saber mais, confira algumas das fontes para este artigo –
Prisco, Yá Carmen S. As religiões de matriz africana e a escola. Ed. 2012.
https://ocandomble.wordpress.com/os-orixas/iansa/
http://malandrosemalandras.blogspot.com.br/