O Santuário São Judas Tadeu, na zona norte de Marília, iniciou nesta semana uma obra inusitada: a construção de um espaço que em futuro incerto será usado como sepultura para o padre Pio Milpacher, de 95 anos, pioneiro nas atividades da paróquia, que está vivo, bem acompanhado por equipe médica e com boa avaliação de saúde. E pede ajuda da comunidade para realizar a obra.
Pio Milpacher é um pároco italiano que chegou ao Brasil em 1967 para implantar no país a primeira casa da Congregação Jesus Sacerdote, que hoje atua em três cidades: Marília, Osasco e Barretos. Marília é hoje sede da Congregação no país.
A Congregação foi criada para atendimento e acompanhamento de párocos, destinada à “santificação dos padres” e cuidados com as vocações. Oferece abrigo, acolhimento e suporte em diferentes formas.
Obra no Santuário São Judas reserva espaço para sepultura de padre em Marília
Apesar desta missão, Padre Pio desenvolveu na cidade e em outros locais onde passou amplo programa de atendimento social, que em Marília resultou em um dos mais abrangentes e organizados projetos de ação pública, o Centro Comunitário São Judas, em torno do Santuário de São Judas.
É um trabalho que começou quando o padre foi nomeado para comandar a Paróquia de São Sebastião, na zona norte da cidade. Desenvolveu o Santuário de São Judas, a paróquia de São Francisco e tornou-se figura reconhecida por percorrer a cidade em uma mobilette recolhendo doações e mobilizando fiéis.
Atuou em Marília entre 1978 e 1995, quando foi transferido para atividades da Congregação em Osasco. Permaneceu fora até 2013 e retornou para as atividades na cidade, de onde não saiu mais e não pretende sair.
Durante celebração de “lava-pés”, padre Pio recebe cuidados de padre José, atual reitor do Santuário
“Padre Pio foi pioneiro da congregação no país. Chegou com padre Antonio, que faleceu em 2010, em Barretos, e foi uma correria, em cima da hora, para fazer e liberar seu sepultamento na paróquia. Aqui estamos tomando algumas medidas de prevenção”, explica o padre José Antonio de Souza, reitor do Santuário.
Há justificativas. O processo envolve autorização do conselho paroquial, da Diocese, da Congregação, além de questões legais como registro e liberação na prefeitura. Tudo foi providenciado.
“É uma homenagem que a comunidade deseja e mais que merecida. Padre Pio se destacou como bom pároco, que nos dá testemunho e um exemplo de dedicação, fé e atendimento”, disse padre José.
O trabalho sacerdotal também foi acompanhado por uma intensa produção intelectual e livros reconhecidos muito além do ambiente religioso. A obra “O Governo dos Povos”, um estudo sobre política, democracia e religião, é citada entre livros jurídicos e políticos de grandes organizações.
Celebração dos 95 anos do Padre Pio, em março
Em dezembro do ano passado, o Santuário celebrou os 50 anos de Padre Pio no Brasil. Em março, foi a festa de 95 anos do pároco. Pio Milpacher mora com outros sacerdotes na casa paroquial. Acompanha celebrações e participa em algumas delas.
Por força da idade, sofre com problemas como perda de memória, restrições de mobilidade, mas tem boa visão, participa na leitura de orações e às vezes surpreende, como aparecer de surpresa em uma celebração que avançou até depois das 23h.
Na última quinta-feira, foi escolhido pelo reitor do Santuário para ser um dos 12 fieis a receberem a cerimônia de lava-pés, que reproduz na Semana Santa o gesto de Jesus na lavagem dos pés dos apóstolos.
“Estamos fazendo isso para já estar tudo pronto quando ele nos abandonar e ir para os braços do pai. Esperamos que ele fique conosco por muitos anos ainda, porém já vamos estar prevenidos caso venha acontecer algo”, diz a mensagem do Santuário na apresentação da obra.
A construção está orçada em R$ 4.800 e o santuário pede ajuda da comunidade para financiar a obra, com um alertas; “A morte é inevitável amado, é o destino de todos nós. Já vamos deixar tudo preparado para quando o dia da despedida chegar não seja uma correria. Mas é claro que nossas orações estão voltadas para a saúde dele… Paz e Bem”.