Sobre emoções, dança e rio

“Eu faço questão de celebrar a vida
As chegadas, as passagens, até mesmo as partidas
Toda terra, todo fogo, toda água, todo ar
Amor de pai, amor de mãe, o mais puro que houver pra dar

Surfando no horizonte eu faço dele o agora
E dos raios de sol fonte de energia que revigora
Sem medo de deixar a lágrima cair
Cair de dor, cair de amor, cair do riso, do sentir

Qualquer certeza de que a minha alma é quem fala
Faz da vida magia e de mim ser que resvala
Por entre essas tais linhas tortas de Deus
E por entre a vida dos seus”

Música: Surfando no Horizonte
Composição e intérprete: Anna Tréa

Emoção é palavra que deriva do latim Emovere, significa agitar, remover, mudar de lugar. Portanto, emoção é algo pedindo passagem, é como um rio dentro de nós em constante fluxo e movimento. É possível parar, estagnar um rio? Assim é com as emoções, não é possível não senti-las, pois natureza que somos, estamos em constante fluxo, a maior certeza da vida é justamente a impermanência.

As emoções, mesmo aquelas mais desconfortáveis, são naturais. Medo, tristeza, alegria, ansiedade, calma, tédio, empatia, dúvida, nojo, encantamento, inveja, nostalgia, satisfação, frustração, animação, afeto, entre outras. Desde muito pequenos convivemos com todas essas e outras tantas, em diferentes proporções e cadências, elas sempre estarão presentes.

Atualmente é comum a narrativa de que flutuações emocionais não são naturais e por isso devem ser estabilizadas, mas saiba que estabilidade não diz respeito a não sentir emoções diferentes a cada momento. O que não é natural é manter-se inalterado emocionalmente frente as diferentes situações e dinâmicas da vida, pois é justamente a capacidade de sentir que nos faz humanos. Humanos que somos, portanto, natureza em contínuo movimento.

O sumo da vida vem dessa constante tensão-movimento entre a estabilidade e a instabilidade, equilibrar-se não tem a ver com não sentir-se instável, mas ele acontece a partir do reconhecimento das emoções que dançam em nós o tempo todo e da abertura de passagem para que elas possam fluir, pois tentar parar um rio é como apagar fogo jogando álcool nele. A força só aumenta e aí é que pode se tornar incontrolável.

Quando reconhecemos e damos lugar aos fluxos emocionais é quando entramos em contato e temos a oportunidade de nos autoconhecermos para então saber como administra-las.

Repare  o dia a dia de um jardim, hoje as plantas podem estar mais floridas e viçosas, amanhã pode ser que as flores caiam e no dia seguinte elas estejam mais murchinhas, assim somos nós, demasiadamente humanos e emocionalmente-naturalmente impermanentes.

É importante salientar que existem, sim, situações de instabilidade emocional que podem causar alterações importantes no cotidiano e nesse caso é necessário buscar ajuda profissional, mas o que temos acompanhado é um ideal de positividade, felicidade, estabilidade e plenitude tóxica, inalcançável, que aprisiona e adoece, além de nos distanciar daquilo que existe de mais genuíno em nós, as emoções.

Elas comunicam, sinalizam, delimitam, protegem, dão suporte, dão movimento a nossa vida interna e externa, nos fazem capazes de sermos afetados e afetarmos.

Através das nossas emoções nos conectamos uns com os outros, é na relação emocional que a pele arrepia, que o vento sopra, que sorrimos ou não na presença de alguém, é a maneira como nos sentimos afetados que possibilita ficarmos ou irmos embora. Imagine viver uma vida sem flutuações? Sem dança? Cada emoção sentida, seja ela confortável ou desconfortável tem seu lugar e seu tempo de ser e estar. Para lidar com essas flutuações é necessário dança, reconhecimento, passagem, compreensão de que é natural e de que é importante e se precisar de ajuda não hesite em buscar.