O brutal assassinato de Marielle Franco, vereadora do PSOL no Rio de Janeiro, e Anderson Pedro, seu motorista, não deveria ser tratado tão somente na perspectiva de gênero, de cor, de lado político, de ideologias, de riqueza, de favela, ou qualquer outra adjetivação. Isto não significa que tais abordagens não sejam importantes. Elas devem ser problematizadas. Mas, em primeiro lugar, precisamos tratar este crime bárbaro como uma questão de humanidade, do direito humano mais essencial de cada um: o DIREITO À VIDA! Em seguida, devemos tratar esta perversidade como uma questão de Estado.
Nesta perspectiva, é importante ressaltar que a arquitetura institucional do Estado de Direito Liberal foi construída para absorver a violência difusa. E monopolizá-la no poder público para que nada e ninguém estejam autorizados a usá-la a seu bel prazer contra cada um de nós. É a garantia mínima de igualdade e liberdade formal entre os indivíduos: o direito a viver, dentro das leis, sem ser importunado, violentado na sua intimidade.
Infelizmente, nosso Brasil não alcançou a pedra elementar das revoluções sócio-econômica e políticas liberais: o direito à vida, ao seu corpo, a sua primeira propriedade inalienável, de ir e vir e de livre opinião. Estamos no mesmo barco, à deriva. No Brasil de hoje SOMOS TODOS MARIELLE! Mesmo os indivíduos mais bem sucedidos do nosso país vivem presos dentro das suas casas-bunkers e seus carros blindados.
A culpa disto tudo é do nosso Estado e dos políticos tradicionais que insistem em manter a Política na lógica patrimonialista contra o resto, ou seja, eu, você, Marielle, toda a sociedade. Nossos políticos continuam a utilizar o poder público para si. E esquecem do resto, da população que fica relegada à perversa incapacidade gerencial do Estado.
O assassinato de Marielle é a expressão deste Estado patrimonialista e da classe política tradicional que pretendem higienizar a sociedade, nós, o povo. Esta estrutura de poder ineficiente e perversa multiplica as desigualdades sociais entre nós. E fomenta a incapacidade do Estado em proteger cada indivíduo, principalmente, daqueles que defendem agendas políticas e sociais contrárias aos que lucram no nosso país com a pobreza, a ignorância, as desigualdades, a violência, entre outras iniquidades.
Estamos do mesmo lado da trincheira contra um Estado reprodutor de mazelas intensas contra a maioria do seu povo. De um Estado encapsulado em si mesmo e dominado pelos políticos tradicionais que utilizam o público para seus ganhos pessoais. Esta lógica de Estado “antigente” está próxima, está também na nossa cidade. É Marielle os que morrem nos hospitais e postos de saúde pela falta de atendimento; aquela mãe que não consegue vaga na creche para seu filho; o trabalhador que sofre todo dia em um transporte público ineficiente e caro; o servidor sem aumento, sem valorização, sem plano de carreira; uma política social antissociedade; o empresário que paga muito imposto e não tem nada de retorno. SOMOS TODOS MARIELLE!