Uma empresa criada por dez pilotos de aviões monomotores em 1961 em Marília deixou de existir nesta sexta-feira para tornar-se um grande grupo internacional de aviação. A TAM, que nasceu Transportes Aéreos Marília, passa a ser a partir de hoje a LATAM, uma união com a LAN, uma empresa criada como estatal no Chile em 1929, mesmo ano em que Marília virou cidade.
A união das duas holdings vinha sendo preparada desde 2010. Juntas, as duas marcas contam com mais de 40 mil funcionários, cerca de 280 aviões, 115 destinos em 23 países, além de oferecer serviços de cargas em todo o mundo. Muitos destes funcionários são marilienses, que foram presença em toda a história da companhia.
Segundo as empresas, o novo nome foi escolhido para guardar o nome do grupo e fazer também uma referência a “Latin American” (América Latina). LAN e TAM, deixam de existir para dar lugar a LATAM Airlines.
Quando surgiu em Marília, a TAM trabalhava com transporte de cargas e passageiros Paraná, São Paulo e Mato Grosso. Foi a segunda empresa de transporte aéreo na cidade, depois da Comtax (Companhia Mariliense de Táxi Aéreo), de onde alguns pilotos saíram para criar a TAM no final de 1960,
Painel no Museu da TAM mostra hangar da empresa em Marília; à frente, Zamboni, piloto na cidade – Acervo – Ivan Evangelista Jr
A empresa acompanhava não só desenvolvimento do interior mas uma vocação da cidade, que chegou a abrigar o terceiro maior aeroclube do país em número de pilotos, segundo Pláutio Zanni, piloto que iniciou carreira na década de 60 como herança do pai, Renato Zanni, um dos fundadores da TAM.
O vínculo umbilical com a cidade começou a perder força seis anos após a fundação, com a venda para o empresário Orlando Ometto, que transferiu a empresa para São Paulo.
Em 1971, o comandante Rolim Adolfo Amaro, que havia atuado na empresa nos primeiros anos de atividade em Marília, retornou à TAM por convite de Ometto. No ano seguinte assumiu o controle da companhia.
Em 1976 tirou Marília do nome: a TAM virou Transportes Aéreos Regionais. Mas o elo histórico acabou preservado no Museu da TAM, primeiro em Guarulhos e depois em São Carlos, graças à paixão e dedicação de pilotos e representantes da cidade.
Rubens Bombini, Renato Zanni, Nelo Ferrioli e Ari Pinheiro, pilotos de Marília que integravam a TAM na cidade – Acervo Ivan Evangelista Jr
É um resgate histórico que começou por acaso. O voo inaugural do Fokker 100 entre Marília e São Paulo nos anos 2000 levou uma comitiva da cidade para o museu em Guarulhos.
“Chegamos lá e a história contada no museu indicava que a TAM foi fundada ‘em uma cidade do interior’. Aquilo mexeu comigo e com o Wilson Mattos. Dissemos a eles: uma cidade não, é Marília, é o M do nome da empresa”, conta Ivan Evangelista Júnior, hoje gerente de Marketing do Univem, que estava na comitiva.
Membro da Comissão de Registros Históricos de Marília e, mais que isso, integrante por convite do grupo Velhas Águias, que reúne pilotos antigos e histórias da aviação na cidade, Ivan conta que os pedidos renderam. A cidade começou a ganhar mais visibilidade quando o museu mudou.
“Fizemos uma primeira visita na inauguração e já aparecia o nome de Marília, mas só mencionada, uma coisa discreta. Conversamos sobre as origens e um dia recebemos um convite para visitar o painel com a linha do tempo, a história da TAM. E aí sim, Marília já estava lá em informações, imagens e tudo mais, um painel enorme com imagem do hangar da TAM na cidade”, conta.
Plautio Zanni e pilotos de Marília entregam documentos para diretor do Museu da TAM, João Amaro – Acervo Pessoal – Ivan Evangelista Jr
Pláutio Zanni aproveitou a visita e entregou a João Amaro, diretor do museu, documentos e fotos do início da atividade da TAM, memórias da família e do vínculo da companhia com a cidade.
Sem Marília no nome, a TAM manteve voos regulares para a cidade com aparelhos Bandeirantes, da Embraer, depois com o turbo hélice Fokker 27 e chegou a operar na cidade com os jatos Fokker 50 e Fokker 100. Operou diretamente as linhas da cidade até os anos 2000, quando comprou a Pantanal e depois Passaredo, que passaram a responder pela linha.
Agora nem opera na cidade, que é atendida pela concorrente Azul, e nem é mais TAM. É história, que o Museu da empresa, as Velhas Águias e a internet agora ajudam a guardar, como um vídeo que você pode acessar no Canal de Ivan Evangelista no Youtube gravado durante um dos encontros dos pilotos, com direito a exposição de fotos e muitas memórias.